KARIM AÏNOUZ: “CRESCI VENDO NOVELAS DE JANETE CLAIR”
O diretor de “A vida invisível” falou à ISTOÉ horas antes de exibir o filme em Los Angeles, para a Hollywood Foreign
Press, que escolhe os indicados ao Globo de Ouro. Confira:
Por que você escolheu um melodrama nesta fase da carreira?
É algo que sempre quis fazer. Cresci vendo novelas de Janete Clair e filmes da sessão da tarde. Achava um gênero meio cafona, mas fui ficando mais velho e entendi que tinham contundência política. É importante fazer um filme que fale com um público maior. Penso que as pessoas saem de casa para ir ao cinema porque querem sentir algo diferente. O melodrama faz isso. Você não sai do jeito que entrou.
Como o filme repercute no Brasil de hoje?
Eu queria fazer um retrato de mulheres da geração da minha mãe. Ela teria 90 anos se estivesse aqui hoje. Sempre achei que essas mulheres passaram por momentos muito complicados com o machismo e uma sociedade, então ainda mais conservadora, e que foram pouco representadas. O filme é especifico sobre Guida e Eurídice. Não é sobre mulheres em geral, mas acabou sendo. Acho que fala também de quão tóxico o machismo pode ser para todos.
A escolha da Fernanda Montenegro tem a ver com isso?
Era necessário “reencontrar” a Eurídice hoje. Acho lindo na personagem algo que a Fernanda também tem. Apesar de tantos percalços, ela conserva uma grande dignidade.
Era importante ver uma mulher que passou por tudo isso, mas que não está frágil.
Quais as chances de uma indicação do filme ao Oscar?
Claro que seria maravilhoso ser indicado, mas já estou feliz com o que está acontecendo. É importante ter jornalistas estrangeiros aqui vendo o filme. É como campanha eleitoral. Pode ser que não seja eleito, mas com certeza já se torna um jogador conhecido nesse jogo. Vejo dessa maneira.
Com serenidade, mas com sangue nos olhos.
As comparações com “Bacurau” podem afetar a campanha?
Aqui fora não têm tido comparações. Inventaram que seria um filme contra o outro. Imagina! Acho bom existirem filmes ótimos como “Bacuaru” e “Pacificado”. Há tanta polarização na política e no cotidiano do Brasil que é bom não ter no cinema.
Você considera que está no seu auge como diretor?
Eu não. Senão estaria me considerando velho. Quero fazer um filme por ano agora. Estou no auge da vontade.