ISTO É

BOLSONARO SE LIXA PARA OS ÍNDIOS

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Chega a assustar! Soam demasiadam­ente cruéis e preconceit­uosas as posições que o presidente toma em relação aos povos indígenas brasileiro­s. Já de muito tempo, Bolsonaro não esconde de ninguém a sua postura racista no caso e — para além das atitudes que buscam, claramente, retirar direitos desses que são os primeiros habitantes de nosso País — suas referência­s aos índios são tão abominávei­s que difícil é acreditar em um comportame­nto como esse partindo de um chefe de Estado. Messias age como se pudesse, impunement­e, devido ao cargo que ocupa, afrontar qualquer um pelo mero motivo de não gostar da pessoa ou de determinad­o grupo, tribo ou das escolhas que tomam e do papel que ocupam na sociedade (e a discrimina­ção bolsonaris­ta vale para aspectos multifacet­ados, de origem, credo ou opção sexual, em exemplos que se amontoam dia após dia). O mandatário, que se referiu recentemen­te aos índios dizendo que eles “estão evoluindo” e que são cada vez “mais humanos como nós”, já os comparou também a “animais de zoológico” (inacreditá­vel, mas fez isso, vergonhosa­mente) por viverem em áreas demarcadas. No fundo de assertivas tão deplorávei­s, Jair Bolsonaro quer distribuir benesses a quem interessa, os mineradore­s dentre eles, caçando propriedad­es inalienáve­is e constituci­onais desses povos. E nos últimos dias partiu para a ação concreta, doa a quem doer. Assinou e alardeou aos quatro cantos projeto liberando a exploração do garimpo em áreas indígenas. Foi além: planeja, como meta seguinte, regulament­ar a geração de energia elétrica e até a exploração de petróleo e gás nesses terrenos. Usurpação de propriedad­e privada? Pelo que está na Carta Magna, sim, é evidente. Ainda bem que a proposta ainda precisa passar pelo crivo do Congresso Nacional, que pode, e deve, impor algum bom senso na discussão e estabelece­r freios aos delírios conquistad­ores do Messias do Planalto. Bolsonaro não aceita — e parece um problema de natureza pessoal, cisma mesmo — que os índios tenham tamanho controle sobre quase 16% do território brasileiro. Reclama disso a toda hora e busca mudar o escrito, como se pudesse ser ele em pessoa, por delegação divina, o senhoril a estabelece­r e retirar as tais concessões. Teria que retornar aos tempos da monarquia. No intuito de abrir a exploração sem limites de território­s alheios, que não são dele nem do governo que comanda, o presidente ainda resolveu impor limitações ao poder de veto dos índios para os projetos em análise. Com que direito arbitra tamanha afronta legal? Seu lambe-botas na Casa Civil, ministro Onyx Lorenzoni (que estava cai não cai do posto, quando participou da cerimônia de anúncio da medida) ainda teve a petulância de dizer que a proposta seria uma espécie de nova “Lei Áurea” para os índios. Como se eles precisasse­m ser libertados de algum jugo. Não seria o contrário? Curiosa a tática de inverter o conceito dos movimentos. Não menos tenebrosa veio a ser a escolha de um ex-missionári­o evangélico, Ricardo Lopes Dias, para ocupar na Funai a coordenaçã­o-geral dos chamados índios isolados. Está tudo dominado e o aparelhame­nto segue em curso. Dias dá toda a pinta de desejar catequizá-los, como missão antropológ­ica, para uma espécie de novo rumo de vida. Diga-se de passagem que para um Estado laico como o brasileiro (e aí mais um princípio previsto na Constituiç­ão) o dirigismo religioso é algo absolutame­nte ilegal. A eventual evangeliza­ção indígena atende a interesses políticos obscuros e retrógrado­s. Remonta aos tempos da colonizaçã­o, quando a prática foi usada como forma de saquear riquezas que pertenciam àqueles habitantes. Qualquer semelhança como o intento de agora não é mera coincidênc­ia. Fica a dúvida: o quão deprimente pode ir a sanha ideológica do mandatário Jair Bolsonaro? Para acomodar a indicação do teólogo Dias no regimento interno da Funai foi necessário mudar até os preceitos das nomeações, que estabelece­m, dentre outras exigências, que o nome escolhido seja oriundo exclusivam­ente dos quadros de carreira do organismo. O “mito” desconside­rou o estatuto. Impôs quem quis e com tarefas bem claras. Na solenidade de lançamento da “nova Lei Áurea”, Bolsonaro ainda previu que receberia — como não poderia ser diferente — críticas de ambientali­stas, outro time de “adversário­s” que menospreza, e mostrou todo o seu apreço e preocupaçã­o com a resistênci­a deles: “se um dia eu puder, confino-os na Amazônia”. Trocando em miúdos, pode ser entendida como uma conversão galhofeira da antiga ordem do “prendo e arrebento”, ambas reveladora­s do autoritari­smo de quem as professa. Bolsonaro, Dias & Cia sequer levam em conta que os tais indígenas em isolamento são vulnerávei­s a doenças e agentes externos, que não deveriam ser perturbado­s em seu habitat natural. Na verdade, estão se lixando para o que aconteça com eles. O que importa são as terras que ocupam e que precisam ser “colonizada­s” para o lucro de gente que dá e financia voto.

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