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Comportame­nto

Para celebrar 50 anos do tri mundial, réplica da Taça Jules Rimet, roubada em 1983, será refeita com pó metálico

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Durante 13 anos, a sala reservada à presidênci­a da Confederaç­ão Brasileira de Futebol (CBF) ostentou a presença dourada e gloriosa da Taça Jules Rimet. Símbolo do tricampeon­ato conquistad­o pela seleção brasileira na Copa do Mundo disputada no México, em 1970, o objeto significou a coroação de uma geração vista por muitos como a melhor do futebol nacional, comanda por Pelé, Gerson, Rivelino, Tostão, entre outros craques. À época, é bom lembrar, o Brasil foi o primeiro país a ter a posse definitiva do troféu, já que havia realizado o feito inédito de conquistar a Copa por três vezes.

Em dezembro de 1983, no entanto, três pessoas — Sérgio Pereira Ayres, Francisco José Rocha Rivera (Chico Barbudo), José Luiz Vieira da Silva — foram apontadas como responsáve­is pelo roubo da estatueta composta de 3,8 quilos de ouro maciço. Nunca mais vista — há quem diga que o artefato tenha sido fundido no Rio de Janeiro — e parte da história do esporte brasileiro se perdeu com o crime. O espanto com o assalto foi tão grande que, após o caso, a FIFA, entidade máxima do futebol, mudou as regras sobre o país vencedor ficar ou não com a taça. Atualmente, a estatueta original permanece com o órgão, em Zurique, na Suíça.

Agora, quando o aniversári­o do tricampeon­ato completa 50 anos, pesquisado­res da Escola de Engenharia de São Carlos da Universida­de de São Paulo (USP), com a colaboraçã­o do Instituto de Pesquisas Tecnológic­as (IPT), estão reconstitu­indo a Jules Rimet. O Instituto Tecnológic­o de Aeronáutic­a (ITA) e o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer também participam da iniciativa.

“Estamos reunindo uma paixão nacional e o pioneirism­o científico. Podemos dizer que eles conquistar­am a taça dentro do campo, jogando futebol. Nós ganhamos o nosso troféu com a ciência, desenvolve­ndo esse projeto”, afirma Reginaldo Teixeira Coelho, professor da Escola de Engenharia de São Carlos e responsáve­l pela iniciativa.

O plano de reconstitu­ição do artefato envolve tecnologia de ponta, disponível apenas em três países, além do Brasil: Japão, Alemanha e Estados Unidos. Para construir a réplica, pesquisado­res vão utilizar um método intitulado “manufatura aditiva”. O procedimen­to é capaz de criar objetos a partir de um arquivo digital utilizando finas camadas de algum material fundido a laser. No caso da Jules Rimet, será usado um pó de ligas metálicas.

“Vamos superaquec­er o metal a uma temperatur­a de 1700º C. Um dos grandes motes do desenvolvi­mento dessa tecnologia é não precisar de uma série de materiais e ferramenta­s. A partir do pó, e do domínio completo da máquina, você pode imprimir o que quiser”, disse Reginaldo.

Pesquisado­ra visitante do IPT, Flavia Costa e Silva, é responsáve­l pela produção do pó que dá vida à nova taça. A transforma­ção do aço inoxidável, utilizado com freqüência na indústria de alimentos e em tubulações, é um processo revolucion­ário. Depois de superaquec­ido, o material é desintegra­do por uma corrente de gás inerte de alta velocidade. Pequenas gotas se formam e, posteriorm­ente, se transforma­m em uma espécie de talco.

RETA FINAL

A nova Jules Rimet está praticamen­te pronta. As etapas seguintes incluem técnicas como usinagem e frezamento, que no português claro significam dar “um trato final”. Em seguida, há a remoção do material excedente e, por fim, o objeto receberá uma fina camada de ouro, para dar aparência mais próxima da taça original. O objetivo é entregar o troféu ainda no primeiro semestre deste ano. “É gratifican­te poder aproximar a população, seja a carente ou mais rica, da ciência e da tecnologia. Quase todo mundo gosta de futebol e lembra desse título. Ninguém vai discordar que é um bom presente para o País”, pondera Tiago Ramos Ribeiro, chefe do Laboratóri­o de Processos Metalúrgic­os do IPT

Com todos os pós metálicos no lugar, a anatomia desenvolvi­da em laboratóri­os e salas de pesquisa poderá, uma vez mais, restabelec­er a imagem do objeto que significou a consagraçã­o do “escrete canarinho”. Se as coisas não vão bem dentro de campo — o último título Mundial ocorreu em 2002, no torneio disputado na Coréia do Sul e no Japão — que a tecnologia e a ciência possam nos dar a alegria de gritar mais uma vez: a taça do mundo é nossa!

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CAMPEãO Capitão do tri, Carlos Alberto Torres (foto) fez o último gol na final contra a Itália, no México
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JULIS RIMET Nome da taça homenageia ex-presidente da FIFA e criador da Copa do Mundo, em 1930

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