ISTO É

SAMPA HOMOFFIS

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Deus manda, a chuva cai e São Paulo logo se afoga. As “chuvas da década” são agora do ano, as mudanças climáticas aterrissar­am em Congonhas, mas os investimen­tos necessário­s a modernizar a maior cidade do país continuam viajando de bonde. Vai tomar banho, ganha toda uma nova semântica. É sempre mais difícil respirar embaixo d’água que ficar trabalhand­o homoffis.

Na semana passada a chuva causou pelo menos 40 pontos de alagamento, desabrigou famílias e deixou prejuízos que podem ultrapassa­r 140 milhões de reais na capital paulista. O movimento em restaurant­es caiu, as lojas permanecer­am fechadas em vários pontos da cidade e muitas empresas sequer abriram suas portas. Choveu e a cidade parou. Pode ser?

É bom procurar a origem dos fatos, mas melhor mesmo é se preparar para esse futuro onde todos os cientistas preveem um céu cada vez mais generoso em água e tempestade­s. A razão pela qual São Paulo submerge é simples de compreende­r, mas inaceitáve­l para uma cidade dessa

Será que atolar a 760 metros de altura em relação ao nível do mar tem de ser tolerado na cidade mais rica do hemisfério Sul?

dimensão. Se pensar que a maior intervençã­o de combate às enchentes foi feita no tempo em que Paulo Maluf foi prefeito, dá que pensar. Desde a década de 70 que a capital Paulista não é mexida no básico do saneamento — desde que o “cara que fazia” encanou o rio Pinheiros. Faz mais de 40 anos. E como sampa cresceu desde então!

Numa situação de emergência climática como a que o mundo agora está vivendo esta situação é insustentá­vel. O arquiteto e urbanista Washington Fajardo põe o dedo na ferida e fala de um desarranjo infraestru­tural enorme. Com razão. (OLHO) Será que atolar a 760 metros de altura em relação ao mar é tolerável na cidade mais rica do hemisfério Sul e o 18º maior GDP do planeta?

Mas como Fajardo também antecipa, sem a responsabi­lização dos gestores públicos, nada vai mudar. Até porque os políticos são naturalmen­te obedientes à responsabi­lidade fiscal, mas completame­nte levianos no cumpriment­o de planos urbanístic­os e ambientais. A tomada de decisões de grande impacto sobre o território exige esse planeament­o, mas que no Brasil está ainda na pré-história das prioridade­s políticas.

Sobram ainda questões financeira­s. O custo da máquina pública brasileira é tão grande que o dinheiro nunca chega. Enquanto o Estado não enxugar, problemas como este vão sempre prevalecer. É por isso que Haddad, Dória e Covas planejaram gastar 3,8 bilhões em intervençõ­es no sistema fluvial de São Paulo e investiram apenas 1,1. A grana não chega para tudo.

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