ISTO É

Última Palavra

- Mentor Neto é escritor e cronista

Para entrar para a História, o sonho de qualquer político, é necessário fazer algo notável. Criar políticas trabalhist­as, como Getúlio.

Construir uma Capital Federal, tal qual Juscelino.

Acabar com a inflação, como FHC e Itamar.

Ou criar o maior escândalo de corrupção que se tem notícia desde que inventaram o papel moeda, como a turma do PT.

Só grandes feitos como esses eternizam o autor em livros de História e saciam o ego de vereadores a presidente­s.

Caso contrário amargam o esquecimen­to, como um

Café Filho.

Com o Brasil como epicentro da maior catástrofe sanitária do mundo e à beira da maior crise econômica desde que os portuguese­s desembarca­ram na Bahia, o presidente Bolsonaro pode ser eternizado como culpado pelas mortes, um genocida mesmo ou — o que seria muito pior — ser simplesmen­te esquecido.

Ainda dá tempo de evitar.

Há uma enorme oportunida­de dando sopa para o presidente ser lembrado para sempre, renovando um símbolo nacional que ficou velho. Sucateado mesmo. A Bandeira Nacional.

Está mais do que na hora de atualizarm­os nosso ícone mais sagrado.

Vamos analisar a situação atual.

Nossa bandeira é composta por um retângulo verde que representa a Casa de Bragança de Pedro I. Ou, numa visão mais poética, nossas matas, nossa fauna e nossa flora.

Sobre o ele, um losango amarelo representa­ndo a Casa de Habsburgo de Maria Leopoldina. Ou o ouro e nossas riquezas naturais.

Aí vem um círculo azul, lembrando nossa imensidão territoria­l e as belezas da nossa terra.

Dentro dele, as estrelas no céu visto desde o Rio de Janeiro, representa­ndo os 27 Estados com uma faixa branca, num arco baixo astral, que mais parece uma boca triste, com o superado tema positivist­a “Ordem e Progresso”. Percebem como tudo isso ficou velho? Datado mesmo.

É compreensí­vel, afinal, foi adotada em 1889.

Está aí a chance do Bolsonaro se eternizar.

“Uma Nova Bandeira para um novo normal” será o slogam. Uma bandeira revista e atualizada para representa­r a Nação que somos hoje. Humildemen­te, faço algumas sugestões Começo pela forma.

Nada desse retângulo careta. O Brasil não é isso. Aqui todo dia tem novidade.

Retângulos são para Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, ou qualquer outro país sem graça desses.

Nossa Nova Bandeira não terá forma fixa. Boa, vai?

Copa do Mundo: Bandeira redonda.

Desfile Militar: Triangular, representa­ndo o Exército, a Marinha e a Aeronáutic­a.

E por aí vai.

De fixo, as cores.

Verde teremos pouco, lembrando o desmatamen­to descontrol­ado que, por sua vez, será representa­do por uma grande área marrom.

Alguns dirão que o marrom pode ser uma referência à imprensa.

Não vamos desmentir.

O mistério ajuda na divulgação.

O amarelo será substituíd­o por um tom prateado. Anodizado.

Para não ficar marcado como genocida, Bolsonaro deve investir em design

Sai o ouro e entra o nióbio.

O círculo muda para um cinza nublado, em homenagem a Economia sempre sujeita a raios e trovoadas.

Dentro do círculo, quatro estrelas douradas, representa­ndo os generais.

Ao invés do arco para baixo, uma faixa na forma de um sorrisão bonito, mostrando que o brasileiro ri de suas desgraças.

Nela, a frase, tão importante que será escolhida numa grande promoção no programa do Silvio Santos, organizada pelo Ministro das Comunicaçõ­es.

O autor da melhor frase ganha uma viagem para a Disney. Deixo aqui, minha singela sugestão:

“Brasil, onde a zoeira não tem fim.”

Ah! E quase me esqueço: Na esquerda, um cantinho vermelho, lembrando, é claro, a constante ameaça comunista.

E para terminar, o design terá assinatura de um artista nacional de renome.

Meu voto é por Romero Britto, que mora em Miami e está familiariz­ado com o Brasil globalizad­o.

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