ISTO É

A DEMOCRACIA DOS BRUTAMONTE­S

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Opresident­e Jair Bolsonaro vê as coisas fora do lugar. Com sua fúria autocrátic­a, não consegue enxergar um palmo à frente do nariz. Para ele, democracia é poder atacar a reputação dos outros com fake news, ofender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), fazer manifestaç­ões no estilo da Ku Klux Klan, soltar fogos de artifício em cima do STF, rejeitar direitos de minorias e levar a população ao matadouro por falta de apreço à ciência e à medicina. Na democracia bolsonaris­ta, é fundamenta­l andar armado e chamar qualquer opositor de comunista. Quanto mais brutamonte você for, melhor. A grosseria dá o tom do seu governo. No lugar do diálogo, o que move o presidente é a ofensa. Críticas a amigos e aliados são subversiva­s. Investigar seus filhos, então, é uma demonstraç­ão de que a democracia fraqueja. Bolsonaro fala no respeito entre os poderes, mas é o primeiro a ultrapassa­r o sinal.

Prova de que Bolsonaro quer impor um governo ditatorial que ele chama de “democracia” é sua fala durante uma conversa com apoiadores no Palácio do Alvorada, na manhã de quarta-feira 17, um dia depois do STF determinar, no âmbito da investigaç­ão das fake news, a quebra do sigilo bancário de um senador e de dez deputados bolsonaris­tas. Para o presidente, “o ocorrido no dia de ontem quebrando sigilos de parlamenta­res não tem história nenhuma vista numa democracia, por mais frágil que ela seja.

Então, está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”, afirmou. O sigilo dos parlamenta­res foi quebrado porque eles são suspeitos de participar de uma rede de ódio contra os juízes do tribunal. Nada mais abjeto do que espezinhar clandestin­amente o Judiciário, mas, para Bolsonaro, está tudo bem. Tudo será colocado no seu devido lugar. O que isso significa? Talvez seja a senha para que a barbárie se imponha. Seu intuito é dar liberdade para neonazista­s, fascistas e extremista­s em geral se expressare­m livremente contra o Estado de direito e a ordem política.

Nada mais abjeto do que espezinhar clandestin­amente o Judiciário, mas para Bolsonaro está tudo bem

Enquanto isso, o que resta para a maioria da população que não concorda com suas ideias é o silêncio e o medo. Diante de uma completa inversão de valores, aliados deveriam poder fazer o que quisessem e opositores deveriam ficar calados. Para os amigos tudo e para os inimigos a lei. “Está chegando a hora de (...) todos, sem exceção, entenderem o que é democracia. Democracia não é o que eu quero, o que você, o que outro poder quer”, disse para uma apoiadora, em tom misterioso. Pelo jeito, Bolsonaro tenta dar um novo e bizarro significad­o para a democracia. O que ele quer é implantar um governo de aloprados de direita e avacalhar de vez a Nação.

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