ISTO É

PARIS É UMA FESTA

França retoma vida boêmia com a reabertura de restaurant­es e cafés. Mas os salões têm menos mesas e o serviço agora avança para as calçadas e ruas, que mostram cenas de desrespeit­o às regras

- Marcos Strecker

Paris, aos poucos, volta a ser Paris. Desde a segundafei­ra, 15, a cidade voltou a pulsar em torno dos restaurant­es e cafés, o centro nervoso da vida urbana. A reabertura foi anunciada no dia anterior pelo presidente Emmanuel Macron, que declarou uma “primeira vitória” na guerra contra a Covid-19. Nesse dia, apenas nove óbitos ocorreram na França, e o número de pessoas hospitaliz­adas em UTIs baixou para 869, bem abaixo do pico de 7 mil, em abril. Um dos países mais atingidos do mundo começa a virar a página. Mas, como mostram as fotos ao lado, a euforia tem levado a várias cenas de desrespeit­o às regras de distanciam­ento social. No dia 11 de maio, o confinamen­to foi aliviado, com a liberação parcial do transporte público, reabertura de lojas e permissão de reuniões de grupos de até 10 pessoas.

Os bares, cafés e restaurant­es estavam fechados desde 14 de março, quando o confinamen­to foi decretado repentinam­ente. Quase três meses depois, no último dia 2, os estabeleci­mentos voltaram à ativa, mas apenas nas áreas externas, o que já foi recebido com grande alívio. Museus, parques públicos e teatros também foram reabertos, mas com distanciam­ento seguro e uso de máscaras. “Ainda não voltamos aos dias felizes, mas estamos perto disso”, disse Macron, traduzindo a sensação de euforia, como se o país vivesse uma nova liberação. Agora, a capital passou à fase “verde”. Os salões dos restaurant­es e cafés voltaram a fervilhar, ainda que obedecendo certos cuidados. Além da maior distância entre as mesas, o uso de máscara é obrigatóri­o para todos os funcionári­os e também para os clientes, quando não estiverem sentados. Para diminuir o contato, alguns cafés substituír­am cardápios por lousas, e outros adotaram menu virtual, que pode ser acessado pelos clientes no smartphone por meio de um código de barras ou QR Code.

Os donos dos cafés e restaurant­es se queixam que tiveram pouco tempo para preparar a reabertura. E a maior parte dos funcionári­os está recebendo o auxílio oficial bancado pelo governo durante a quarentena. Mesmo assim, cerca de 80% já abriram as portas. Os proprietár­ios também reclamam do limite de dez clientes por mesa, assim como da distância mínima de um metro entre os grupos. Isso vai diminuir a lotação em até 60%, garante o sindicato das empresas, penalizand­o especialme­nte as pequenas brasseries. As más línguas dizem que o novo normal traduz na verdade o ideal francês: os parisiense­s estão novamente socializan­do, mas mantendo distância uns dos outros. As áreas externas, por outro lado, que fazem parte da cultura dos cafés, serão mais usadas. Dois terços dos 18 mil estabeleci­mentos de Paris usam calçadas, e a prefeitura permitiu sua ampliação. Quase 6 mil estabeleci­mentos já pediram autorizaçã­o para utilizar espaços públicas adicionais, como áreas de estacionam­ento e de comércio, o que será liberado até 30 de setembro. Outro recurso é a liberação de ruas apenas para pedestres, para diminuir aglomeraçõ­es. A prefeitura avalia a liberação de 118 delas, e algumas já estão livres de carros entre 18h e 22h.

Além das calçadas mais ocupadas, a paisagem na cidade também já ficou marcada pela presença maior de bicicletas, cujo uso explodiu durante a pandemia. O movimento, é certo, ainda não é o mesmo. Espaços antes apinhados de gente, como a avenida Champs-Élysées, ainda têm um volume bem menor de ocupação. “O verão de 2020 será diferente de qualquer outro”, cravou Macron. Porém, a vida começa a voltar ao normal. A população já aproveita o final da primavera em piquenique­s na beira do rio Sena. Escolas retomarão as atividades na segunda-feira, 22, com presença obrigatóri­a dos alunos. Cinemas e salas de espetáculo­s também reabrem nesse dia. A Torre Eiffel, um dos cartões-postais parisiense­s, será reaberta no dia 25, com cautela. O visitante precisará usar as escadas, já que os elevadores ficarão desativado­s por enquanto. Os hotéis receberam novos protocolos sanitários. Áreas comuns passaram a ser higienizad­as. Em alguns há um intervalo de pelo menos 24h entre um check out e o próximo check in no quarto. Vários fornecem equipament­os de proteção pessoal (como máscaras, luvas e álcool gel) aos hóspedes. Mesmo assim, a procura ainda é tímida.

Em Londres, Berlim e Bruxelas a vida também começa a voltar ao normal, com a população deixando para trás o longo inverno da pandemia, que não será esquecido nem vai deixar saudades. A maioria dos países europeus abriu suas fronteiras no dia 15, numa lenta volta à normalidad­e. Além da França, Alemanha, Suíça, Itália e Bélgica passaram a receber visitantes da Europa. Já os brasileiro­s ainda precisarão esperar um pouco. Não há previsão ainda para que os viajantes do Brasil voltem a curtir a cidade luz.

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