Sem pé nem cabeça
cloroquina como a solução do problema, aumentando as compras do produto a níveis estratosféricos e pressionando médicos para que adotem o medicamento. Dessa forma, espalhando tolices por onde passa, ele coloca o Brasil numa posição de pária internacional, onde a imunização coletiva, que permitirá a retomada da atividade econômica e a volta da normalidade, será sempre colocada sob suspeita pelos observadores internacionais. A imagem do País que o presidente promove é de um lugar onde não existe responsabilidade no combate à doença e onde as pessoas acreditam em informações falsas e fazem o que querem, sem obedecer a qualquer planejamento governamental porque para o presidente o que importa é massacrar a verdade.
MOVIMENTO ANTIVAX
Entre os negacionistas há os que promovem a liberdade vacinal (só se vacina quem quer) e há os que rejeitam sumariamente qualquer imunização. De qualquer forma, a direita populista que ganha força em todo o mundo se apropriou desse discurso e passou a pregá-lo abertamente. Naturalistas também questionam o sistema de vacinação massificado, além de acusarem conspirações entre governos e a indústria farmacêutica. O movimento antivacina já se apresentava difusamente desde o início do século 20, quando campanhas de imunização enfrentavam a oposição de alguns setores da população – um caso clássico é o da Revolta da Vacina, em 1904, no Rio de Janeiro. Houve protestos contra a Lei de Vacinação Obrigatória e os serviços prestados pelos agentes de saúde. Pelo menos 30 pessoas morreram nos conflitos. Em 1998, um estudo publicado pelo médico britânico Andrew Wakefield na prestigiada revista Lancet vinculava a vacina tríplice viral a casos de autismo. Wakefield analisou a saúde de 12 crianças, das quais oito teriam manifestado o autismo duas semanas depois da aplicação da vacina. O pesquisador atribuiu esse fato a uma sobrecarga do sistema imunológico. Soube-se depois que as conclusões do trabalho de Wakefield foram fraudadas, mas o estrago já estava feito. Vinculou-se a vacinação a uma doença terrível e outras vacinas, além da tríplice viral, também foram estigmatizadas. Apesar de desmentida, a pesquisa deu munição para os negacionistas, que até hoje insistem nessa mentira, aumentou a crise de confiança em relação à imunização e levou muitos pais a deixarem de vacinar seus filhos.
Ao mesmo tempo em que lançam críticas, fake news e promovem mentiras para assustar a população, o problema da baixa imunização no Brasil se acentua ano a ano. Em 2019, atingiu proporções calamitosas. Segundo dados do Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, sete das nove vacinas normalmente dadas para bebês registraram no ano passado os piores índices de cobertura desde 2013. No caso da tuberculose e da poliomielite, o percentual de crianças vacinadas foi o pior em 20 anos. Pela primeira vez no século, o Brasil não alcançou a meta para nenhuma das