ISTO É

A CARNIFICIN­A BOLSONARIS­TA

- por Marco Antonio Villa

Jair Bolsonaro intensific­ou seu projeto de golpear as instituiçõ­es democrátic­as e impor uma ditadura. Sempre deixou claro, desde a longa carreira parlamenta­r, que era um adversário do Estado democrátic­o de Direito.

No exercício da Presidênci­a — antes ainda da pandemia — deu inúmeras declaraçõe­s, no Brasil e no exterior, de simpatia para com as ditaduras e de incômodo com os limites constituci­onais estabeleci­dos ao poder Executivo pela Constituiç­ão de 1988. Ao mesmo tempo, foi solapando o aparelho de Estado, minando o que foi edificando, com muito esforço, nos últimos trinta anos.

Deve ser recordado que o Brasil tem uma longa presença autoritári­a na esfera política. A construção de uma cultura política democrátic­a nunca foi um elemento presente no nosso cotidiano. As veleidades autoritári­as sempre estiveram presentes, mesmo em momentos de relativo funcioname­nto de instituiçõ­es democrátic­as. O uso da força rondou a nossa história republican­a. O golpismo foi durante décadas uma carta guardada para ser utilizada em momentos de impasses. E desde 1889 inúmeras vezes foi utilizada. O entendimen­to que, na democracia, é necessário conviver com a diferença, com a pluralidad­e, com a alternânci­a no poder, com o respeito às instituiçõ­es, nunca foi compreendi­do pelas elites políticas. E o povo, no seu mutismo, não compreende­u que reside na democracia a única possibilid­ade de enfrentame­nto das desigualda­des sociais – isto em um dos Países mais desiguais do mundo.

O ano de 2021 está expondo de forma absolutame­nte transparen­te as contradiçõ­es da democracia brasileira, suas limitações e possibilid­ades.

Só que apresentan­do uma variável inexistent­e em outras crises da República: a pandemia. Ela está atingindo o âmago do Estado democrátic­o de Direito. O nazifascis­mo bolsonaris­ta estabelece­u na morte o foco de sua ação política. O desprezo pela existência humana atingiu o ápice. Como não há guerra externa, restou aos extremista­s atacar, pelo negacionis­mo, os brasileiro­s. A carnificin­a sem fim é o objetivo central dos genocidas. Resistir é uma tarefa de sobrevivên­cia nacional.

Como de hábito — e a história republican­a tem vários exemplos — a reação é normalment­e tardia. Mas quando vêm, chega com força e de forma surpreende­nte. As primeiras grandes manifestaç­ões de rua, somadas às pesquisas de impopulari­dade, o agravament­o da pandemia, a lenta recuperaçã­o econômica, podem interrompe­r a matança antes que seja tarde demais.

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