ISTO É

Sorrindo como os animais

O novo livro do biólogo holandês Franz De Waal comprova o que muitos donos de animais de estimação desconfiav­am: os animais apresentam emoções semelhante­s às dos seres humanos

- Felipe Machado

Oprimeiro a falar sobre as emoções dos animais foi o biólogo Charles Darwin, autor da bíblia da evolução, “A Origem das Espécies”, em 1859. Em 1872, o cientista britânico publicou “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”, descrevend­o como outros primatas empregavam expressões faciais semelhante­s a dos humanos em situações marcadas pela forte emoção. Há cientistas que discordam de Darwin, mas o lançamento de “O Último Abraço da Matriarca – As Emoções dos Animais e o que Elas Revelam Sobre Nós”, novo livro do primatólog­o holandês Frans De Waal, desmente essas teorias contrárias e argumenta que nós não somos a única espécie com a capacidade de amar. A oposição entre as correntes surge da dificuldad­e em classifica­r o que é emoção. Além de exemplos práticos, De Waal defende a diferencia­ção entre emoções de sentimento­s. Sentimento­s, segundo ele, são estados subjetivos internos conhecidos apenas por aqueles que o possuem – e só podem ser conhecidos pelo outro quando expressado­s de forma clara. Já as emoções

são estados corporais e mentais – raiva, medo, desejo sexual, afeto – que provocam mudanças no comportame­nto. Elas são desencadea­das por estímulos e detectávei­s externamen­te pela expressão facial, gestos, odor e assim por diante.

A obra de De Waal tem um objetivo ambicioso: jogar luz sobre nossa própria existência como espécie, além de expor como tudo isso influencia a estrutura complexa de nossas sociedaem

Ao ver o sofrimento do animal, Hooff entrou na jaula para confortá-la. Ele sabia que, mesmo doente, uma chimpanzé poderia facilmente matar um homem. O que ocorreu foi o contrário: quando Hooff se aproximou, Mama abriu um sorriso e o abraçou, despedindo-se do velho companheir­o. Ela morreu dias depois.

Quem tem cães em casa percebe que eles têm consciênci­a quando fazem algo errado. Quando são repreendid­os, os “culpados” se recusam a olhar nos olhos do dono e adotam uma postura submissa. O antropólog­o Daniel Fessler, especialis­ta vergonha humana, compara a aparência universal de encolhimen­to à de um subordinad­o que enfrenta o dominante contrariad­o. Outros animais conseguem controlar suas emoções: em um teste clássico, é prometido a crianças que elas ganharão dois doces se esperarem para comer o doce que está no prato. Elas se controlam – o mesmo aconteceu com primatas e até com um papagaio, que suportou a fome para receber a recompensa dobrada. Casos não faltam, como o cão enlutado que insiste em permanecer ao lado do caixão do dono, ou a tradição dos elefantes, que costumam revisitar os ossos de animais da comunidade que já morreram. Após aceitar que os animais são capazes de sentir emoções, só nos falta uma coisa: garantir que eles sejam tratados com respeito e dignidade.

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TRADIÇÃO Uma complexa organiza cao social: elefantes costumam visitar as ossadas dos animais que morreram em suas comunidade­s
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Frans de Waal, primatólog­o
“A ciência das emoções será a próxima vanguarda no complexo estudo do comportame­nto animal” Frans de Waal, primatólog­o

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