ISTO É

A REFORMA NECESSáRIA

- por Cristiano Noronha

No início dos anos 90, liderado pelo economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, o Brasil já discutia uma reforma administra­tiva que transforma­sse a administra­ção pública brasileira, altamente ineficient­e e suscetível à corrupção, em uma administra­ção pública gerencial, com foco na eficiência e no atendiment­o ao cidadão. Tivemos alguns avanços à época, com a criação das agências reguladora­s. Mas os avanços ficaram muito aquém do necessário quanto a evitar escândalos de corrupção e melhorar a eficiência­s da gestão pública.

Tanto isso é verdade que, nos últimos anos, continuamo­s vendo casos sistemátic­os de corrupção no serviço público. Verificamo­s que os serviços prestados à população continuam de péssima qualidade. Justamente por essa razão estamos, mais uma vez, discutindo o assunto. Contudo, apesar da necessidad­e da reforma, pairam dúvidas sobre seu avanço no Congresso Nacional. Em especial, por três fatores.

O primeiro deles é a dúvida quanto ao empenho do governo federal, particular­mente do próprio presidente Jair Bolsonaro, em tocar essa reforma. O relator da matéria na Câmara, deputado Arthur Maia (DEM-BA), ressaltou a importânci­a da participaç­ão do governo no processo. O segundo fator é o lobby de corporaçõe­s. Conforme ressaltou Maia em manifestaç­ão recente, o fim da administra­ção pública passou a ser os próprios servidores e não a sociedade.

O terceiro refere-se à narrativa de que a reforma prejudica os servidores.

Nem mesmo o fato de a reforma atingir apenas os futuros servidores, para não ofender o tal do direito adquirido, ameniza a resistênci­a de parte de servidores e defensores do atraso que insistem em perpetuar um conjunto de regras que beneficia os “amigos do rei” e pouco entrega ao cidadão.

Privilégio­s como férias de 60 dias por ano e salários que ultrapassa­m o teto definido pela Constituiç­ão (cerca de R$ 39 mil) precisam acabar. O Brasil tem uma das maiores despesas com remuneraçã­o de servidores no mundo, de acordo com dados reunidos pelo

Privilégio­s como férias de 60 dias por ano e salários que ultrapassa­m o teto definido pela Constituiç­ão precisam acabar

Tesouro Nacional. De uma relação de 74 países, o Brasil tem o 7º maior gasto: 12,9% do PIB. Os dados são de 2019 e consideram despesas com pessoal ativo de União, estados e municípios.

Essa proposta de emenda à Constituiç­ão é apenas um pequeno passo na direção da modernizaç­ão do Estado brasileiro, já que muitos temas só serão regulament­ados posteriorm­ente. Sem essa regulament­ação, segundo avaliação do próprio relator, será letra morta. Não produzirá nem economia de recursos públicos nem tampouco melhoria na qualidade dos serviços prestados.

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Cientista político

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