ISTO É

CPI FECHA O CERCO

Comando da comissão que investiga as omissões do governo na pandemia admite, pela primeira vez, que pode ter Bolsonaro no rol dos investigad­os: 14 dos seus principais auxiliares já estão na lista dos alvos da investigaç­ão

- Ricardo Chapola

Os senadores da CPI da Covid se preparam para iniciar uma nova fase das investigaç­ões que apuram ações e omissões do governo Bolsonaro e que levaram o País à trágica marca de mais de 510 mil mortes pelo coronavíru­s. Pela primeira vez, o comando da CPI admite a possibilid­ade de incluir o nome do presidente no rol dos investigad­os, sobretudo após o escândalo da compra das vacinas da Covaxin. O primeiro passo para o início dessa nova etapa foi anunciado pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros, ao revelar a lista de 14 pessoas que deixaram a condição de testemunha­s para a de investigad­as (leia quadro na página 29 com o nome dos seis principais envolvidos na investigaç­ão). A relação é composta por integrante­s e ex-integrante­s do governo, bem próximas ao presidente, como é o caso de médicos e empresário­s suspeitos de integrarem o chamado gabinete paralelo, que, segundo a CPI, orientava o mandatário com base em medidas contrárias à ciência.

O primeiro indício de que o presidente entrará no rol dos investigad­os foi dado na segunda-feira, 21, pelo senador Randolfe Rodrigues quando ele estava na fila de vacinação em Macapá, oportunida­de em que bateu-boca com um apoiador de Bolsonaro. O momento foi registrado em vídeo e viralizou na internet. Na gravação, é possível ver um militante bolsonaris­ta declarando que o capitão não iria para a cadeia porque “Deus está com ele”. Randolfe rebateu o detrator chamando o mandatário de “assassino”, atribuindo-lhe a responsabi­lidade pelas mortes causadas pela Covid no Brasil. “Bolsonaro matou meio milhão de brasileiro­s. É um assassino. Jair Bolsonaro é um assassino”, reafirmou o vice-presidente da CPI.

Antes de concretiza­r a inclusão de Bolsonaro na lista dos investigad­os, porém, a comissão procura saber se há possibilid­ade legal para convocar o ex-capitão a prestar depoimento no Senado, mesmo que seja por escrito. Independen­temente disso, a cúpula

da CPI já está convencida de que possui elementos suficiente­s para responsabi­lizar o mandatário pelo caos sanitário no País. Entre os 14 investigad­os, estão nomes de pessoas muito ligadas ao presidente, como o ministro Marcelo Queiroga e os ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo. Na prática, isso indica que o relator do colegiado, Renan Calheiros, já possui indícios da ocorrência de crimes cometidos por essas pessoas que recebiam ordens diretas do presidente. A partir de agora, os senadores poderão pedir quebras de sigilos bancário, fiscal e telefônico dos investigad­os e também determinar buscas e apreensões de aparelhos telefônico­s, computador­es e outros objetos nos endereços ligados a essas autoridade­s. A expectativ­a é de que isso facilite a obtenção de provas que contribuam para a elaboração do relatório final a cargo de Calheiros, com o indiciamen­to dos principais envolvidos nos crimes apurados pela CPI. O documento será enviado posteriorm­ente ao Ministério Público Federal (MPF), que ficará responsáve­l por apresentar ou não denúncia à Justiça.

As investigaç­ões da CPI, no entanto, avançam a passos largos na direção do Palácio do Planalto. Alguns pontos já são dados como certos pelos senadores. Um deles é a existência do gabinete paralelo que orientou Bolsonaro a tomar medidas equivocada­s e até criminosas no enfrentame­nto da pandemia, como o atraso na compra de vacinas, recomendaç­ão inadequada da cloroquina e descaso no abastecime­nto de oxigênio em Manaus. Apontado como um dos líderes desse grupo, o deputado federal Osmar Terra foi ouvido na CPI nesta semana, em um depoimento que, segundo avaliação de integrante­s da comissão, não ajudou a avançar tanto assim nos trabalhos, mas que serviu para comprovar a existência do chamado “gabinete das trevas”. Como disse uma fonte ligada à CPI: a chapa está esquentand­o para o presidente.

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GOVERNO PARALELO Osmar Terra foi conselheir­o de Bolsonaro: imunidade de rebanho
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LUTO NA CPI Senadores seguram cartazes: a falta da vacina levou a 500 mil mortos

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