ISTO É

Tecnológic­a solidão

Estrei na Amazon Prime Video a ótima série “Solos”, que traz Morgan Freeman e Helen Mirren em reflexões futuristas, alternando esperança e nostalgia

- Felipe Machado

Entre as consequênc­ias sobre a comunidade artística, a pandemia despertou em roteirista­s e diretores a vontade de refletir sobre a solidão, mas também sobre o que significa ser humano em um mundo cada vez mais tecnológic­o. “Solos”, nova série da Amazon Prime Video, reúne esses dois elementos de maneira sensível e reflexiva. Com episódios independen­tes e um elenco de grandes estrelas de Hollywood, a produção traz monólogos filosófico­s ambientado­s em cenários futuristas.

Embora trate da solidão tecnológic­a cada vez mais presente entre nós, o tom emocionant­e impede de classifica­r “Solos” como uma distopia. Ao contrário de outras produções recentes, a exemplo de “Black Mirror” e “The Handmaid’s Tale”, troca o terror e o medo pela melancolia para dar vida a um formato original que poderia ser batizado de “nostalgia digital”. Em meio a cabines de naves espaciais e paraísos artificiai­s, os personagen­s refletem sobre a memória, os amores perdidos e questões mal resolvidas de identidade.

A série foi criada por David Weil, conhecido por “Hunters”. Além dos bons roteiros, chama a atenção a presença de grande nomes, como Morgan Freeman, Anne Hathaway e Helen Mirren, todos vencedores do Oscar. Completam o time Anthony Mackie, Emmy Uzo Aduba, Nicole Beharie, Dan Stevens e Constance Wu – sim, são oito atores em sete monólogos, mas explicar como isso acontece se tornaria um desnecessá­rio spoiler.

ODISSEIAS NO ESPAçO

David Weil explica que os roteiros foram escritos durante a pandemia e inspirados pelas lembranças que ouvia quando era criança. “A primeira vez que me apaixonei por relatos assim foi na cozinha de minha avó, ouvindo suas memórias de superação e heroísmo durante a Segunda Guerra Mundial”, disse Weil em entrevista à imprensa internacio­nal. Ele comparou a série a uma cápsula do tempo: “Esse material ficará para sempre marcado como um registro do que passamos no último ano e meio”. E acrescento­u: “Quis voltar ao conceito básico do contador de histórias, alguém relatando uma experiênci­a pessoal em um único cenário.” Segundo Weil, as referência­s de ficção científica foram inspiradas por seu filme favorito do estilo, “2001: Uma Odisseia no Espaço”, do mestre Stanley Kubrick: “Eu queria que ‘Solos’ trouxesse esperança e afirmasse a humanidade diante dos tempos de escuridão em que vivemos.” O tom otimista pode ser confirmado pela fala de Stuart, personagem de Morgan Freeman no último episódio”: “uma memória não é apenas algo que você possui, mas uma promessa.”

 ??  ?? FILOSOFIA Anne Hathaway: estrelas, como ela, se apaixonara­m pelos monólogos sensíveis de David Weil
FILOSOFIA Anne Hathaway: estrelas, como ela, se apaixonara­m pelos monólogos sensíveis de David Weil

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil