ISTO É

FUTURO ÁRIDO

Cientistas da Universida­de da Califórnia (EUA) alertam que as reservas de água subterrâne­a no mundo estão se esgotando e que o lençol freático pode ser invadido pelo mar

- Carlos Eduardo Fraga* *Estagiário sob supervisão de Luiz Cesar Pimentel.

Ocenário é alarmante: as reservas subterrâne­as de água potável no mundo estão enfrentand­o uma crise sem precedente­s, com níveis críticos que ameaçam esgotar-se a uma velocidade assustador­a. Um recente estudo da Unesco revela que, em apenas 30 anos, o nível dos aquíferos subterrâne­os caiu 20% em diversas regiões do planeta. Essa situação emergencia­l coloca em risco não apenas a disponibil­idade do líquido vital para as gerações presentes, mas também lança uma sombra ameaçadora sobre o futuro. “É o retrato de um planeta cada vez mais seco”, diz a engenheira ambiental Debra Perrone. Pesquisado­ra da Universida­de da Califórnia, nos EUA, do Programa de Estudos Ambientais, ela faz parte de uma equipe que por cinco anos analisou 75% de todos os aquíferos conhecidos. Eles chegaram à conclusão de que a água potável, recurso indispensá­vel para a sobrevivên­cia humana e funcioname­nto saudável dos ecossistem­as, está enfrentand­o ameaça iminente de escassez. “Esse estudo foi movido pela curiosidad­e. Queríamos compreende­r melhor o estado das reservas globais”, conta Debra.

Publicado na revista científica britânica Nature, na última semana de janeiro, o relatório mostra que o declínio acelerado do nível das fontes subterrâne­as é duas vezes mais elevado do que o esperado, em qualquer período de tempo. A pesquisa é a primeira a analisar os níveis abaixo da terra em escala global. Foram estudados mais de 170 mil poços de água em 40 países e constatado que os níveis diminuíram em 30% dos aquíferos nas duas primeiras décadas do século 21.

RECURSO FINITO

Embora sejam tratadas como um recurso renovável, as fontes podem levar décadas ou até mesmo séculos para se recuperare­m, após serem esgotadas. Para se ter uma ideia da dificuldad­e de recuperaçã­o de um lençol freático, a água subterrâne­a leva em média três anos para se recuperar da seca. “Se as pessoas bombeiam sem antes permitir que sejam recarregad­as, os níveis continuam caindo, o custo do bombeament­o aumenta e a terra afunda”, explica o hidrólogo Hoori Ajami.

Segundo a ONU, as fontes subterrâne­as representa­m 99% de toda a água doce líquida da Terra e, atualmente, fornecem metade do volume captado para uso doméstico pela população global e cerca de 25% de todo o volume utilizado para irrigação. “O bombeament­o excessivo reduz o nível do lençol freático, criando uma espiral descendent­e na qual a restauraçã­o do aquífero se torna cada vez mais difícil”, afirma o hidrologis­ta norte-americano Adam Schreiner-McGraw.

“Esse estudo foi movido pela curiosidad­e. Queríamos compreende­r melhor o estado das reservas globais” Debra Perrone, engenheira ambiental

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FOTO: UC SANTA BARBARA
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AQUÍFERO GUARANI Abastecime­nto de áreas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai

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