ISTO É

O fator Taylor Swift

A cantora pop, que na eleição passada declarou apoio a Joe Biden, arrasta multidões a seus shows pelo mundo, influencia na economia americana e aterroriza os trumpistas

- Denise Mirás

Uma loira de 1,80m, lábios com arco de cupido perfeito e misterioso­s olhos de gata em tons de azul oceano acentuado por raios negros, anda causando inveja a Donald Trump e metendo medo em seus seguidores fanáticos da extrema-direita. Mas a cantora de imagem etérea veleja tranquila por arenas superlotad­as de todo o mundo, apresentan­do-se em shows da turnê The Eras, que devem arrecadar ao menos US$ 2 bilhões, com 10 milhões de ingressos vendidos até dezembro. Se, aos 34 anos — e com 20 de pista —, Taylor Swift já conseguiu impactar a economia americana em US$ 5 bilhões apenas com as apresentaç­ões em seu país, a agora bilionária estrela pop também tem poder para influir no resultado da eleição presidenci­al dos EUA, em 4 de dezembro.

O magnetismo que exerce está explícito na média de 72 mil pessoas por show pelos cinco continente­s (serão mais de 150, entre março passado e dezembro próximo). E nos 280 milhões de seguidores que tem no Instagram: um único post conseguiu que 35 mil jovens se inscrevess­em para votar (a faixa etária que representa 8% do eleitorado americano). Essa mostra de poder midiático — 18% de seus fãs dizem que escolheria­m o candidato que ela indicasse — arrepia os trumpistas, mesmo porque Taylor Swift há anos declara sua defesa de direitos humanos, negando votos a candidatos republican­os que mostrem qualquer forma de preconceit­o. Em 2024, nem precisará falar de seu apoio a Joe Biden, explicitam­ente declarado em 2020.

O desespero dos extremista­s decolou com Taylor Swift eleita “Personalid­ade do Ano” pela revista Time, em dezembro. Foi

quando Donald Trump apareceu para dizer que era “mais conhecido do que ela”. Ele, que tem “meros” 23,7 milhões de seguidores no Instagram — nem um décimo da cantora. O terror e a fúria tomaram forma em teoria da conspiraçã­o, segundo a qual a cantora estaria inserida em uma “psyop” — operação psicológic­a que influencia emoções, indivíduos, grupos, governos — armada pela “esquerda” (leia-se “apoiadores do Partido Democrata”) para reeleger Joe Biden.

Assim, o Superbowl de domingo, 11 de fevereiro, seria parte dessa campanha: Taylor Smith vai ao Allegiant Stadium de Las Vegas, onde irá torcer pelo namorado Travis Kelce, astro do atual campeão Kansas City Chiefs, contra o San Francisco 49ers. Sai de Tóquio a tempo de acompanhar ao vivo a final da National Football League, aparecer diante de uma audiência com mais de 200 milhões de espectador­es, onde anúncios alcançam US$ 7 milhões por 30 segundos na Fox — e para “derrubar Trump”, segundo seguidores. Fato é que as bizarrices que circulam, da parte da extrema-direita, rendem gargalhada­s dos democratas.

O analista político Ricardo Holz observa que, com as redes sociais, os fãs têm acesso direto a artistas preferidos — que, por sua vez, assumem papel mais próximo como influencia­dores. “As marcas querem se associar ao ídolo e se conectar com o público dele. Na política também, mesmo que a massa gigantesca e heterogêne­a seja de difícil identifica­ção ideológica para conexão imediata”, diz. “A Taylor Swift incomoda, como qualquer grande cabo eleitoral, pelo impacto que causa, mas o modelo eleitoral americano não tem o voto direto — é Estado por Estado. Por isso, ela deve ser ponto de atenção, mas não de tamanha preocupaçã­o dos trumpistas.”

Para a cantora, 2024 começou com o quarto Grammy pelo Melhor Álbum do Ano, com Midnights, batendo a marca de Frank Sinatra. Outro recorde foi o de arrecadaçã­o em turnês: com apenas metade dos shows agendados somou US$ 1 bilhão (o recordista era Elton John, que não chegou a isso nem depois de cinco anos de sua turnê de despedida — a Farewell Yellow Brick Road, encerrada em 2023). Hoje, ninguém no planeta movimenta mais pessoas do que a descendent­e de nobre escocês, que toca piano, guitarra, banjo e ukelele (um tipo de cavaquinho havaiano). “A Taylor Swift é um produto de excelente qualidade, lúcida e contemporâ­nea, que vem de anos de bom trabalho”, observa o publicitár­io Washington Olivetto, destacando que os trumpistas podem ter medo, sim, “porque todos somados ainda são menores que ela”.

BILHÕES EM JOGO

Enquanto isso, o ex-presidente Trump segue se debatendo em meio a processos que vão de estupro a roubo de documentos secretos da Casa Branca. E gasta dinheiro para se livrar da inegibilid­ade. Só com o processo da escritora E. Jean Carroll, por abuso sexual, pagou US$ 5 milhões, mais US$ 83 milhões por difamação. Já tirou US$ 53 milhões do bolso com advogados. Seu patrimônio caiu para US$ 2,6 bilhões em 2023 (Bernard Arnault e família encabeçam a lista da Forbes: US$ 212 bilhões). Ainda assim, segue como favorito nas pesquisas, com US$ 42 milhões para a campanha presidenci­al, até agora. Biden, com popularida­de baixando para 38,8%, tem US$ 117 milhões.

Ricardo Holz avalia que o foco do democrata será naqueles que nunca votaram e nos indecisos: “Como o voto tem componente emocional forte, uma liderança carismátic­a com milhões de seguidores como a Taylor Swift pode influencia­r eleitores mais jovens. Mesmo que tenham uma imagem fragilizad­a do Biden. Mas ainda assim é preciso uma estratégia de marketing que conecte pessoas”. Washington Olivetto é conciso: “Um Biden velho é melhor que um Trump novo. Basta dizer isso”.

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GATA DEMOCRATA Taylor Swift estará ao vivo diante de 200 milhões de espectador­es do Superbowl, para desespero dos trumpistas
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Biden, com baixa popularida­de, tem mais dinheiro que Trump que aparece como favorito às eleições presidenci­ais de dezembro
RIVAIS Biden, com baixa popularida­de, tem mais dinheiro que Trump que aparece como favorito às eleições presidenci­ais de dezembro
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