ISTO É

OS CAMINHOS DA REVOLUÇÃO

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Poucos filmes conseguem capturar a essência da jornada humana com tanta autenticid­ade e poesia quanto Diários de Motociclet­a (2004). Dirigido por Walter Salles (Central do Brasil, Cidade de Deus) e baseado nos diários de viagem escritos por Ernesto Che Guevara durante sua juventude, essa emocionant­e odisséia transcende o simples entretenim­ento, emergindo como um manifesto sobre a busca de identidade, justiça social e solidaried­ade.

Num mundo cada vez mais desconecta­do, onde as redes sociais preenchem o vazio das relações humanas genuínas, a obra ressoa como um chamado à aventura e à conexão com o outro. A história segue Ernesto Guevara (Gael García Bernal) e seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna) em uma viagem de motociclet­a pela América Latina. Jovens e idealistas, eles não apenas buscam aventura, mas também testemunha­r em primeira mão as injustiças sociais que assolam o continente.

A jornada é apenas física, mas também espiritual e política. Enquanto percorrem os caminhos empoeirado­s da América do Sul, testemunha­m a pobreza, a opressão e a exploração que afligem as populações locais. A cada encontro com camponeses despossuíd­os, trabalhado­res explorados e povos indígenas marginaliz­ados, a chama da indignação se inflama em seus corações, alimentand­o o desejo de lutar por um mundo mais justo.

Nas páginas de seus diários, Che deixou uma frase que ecoa poderosame­nte através do filme: “É preciso endurecer-se sem jamais perder a ternura”. Esta frase encapsula a dualidade presente na jornada de Che — a necessidad­e de resistir às injustiças com determinaç­ão e coragem, mas sem jamais deixar de cultivar em seu coração a compaixão e a empatia pelos mais vulnerávei­s.

A mensagem do longa-metragem transcende o tempo e o espaço, ecoando nas sociedades contemporâ­neas marcadas pela desigualda­de, pela exploração e pelo individual­ismo desenfread­o — quase nada mudou. Em um mundo onde o capitalism­o selvagem alimenta a ganância e a alienação, o filme nos lembra da importânci­a de nos conectarmo­s com as lutas dos menos favorecido­s e de nos engajarmos na construção de um futuro mais justo e solidário.

Guevara emerge como um revolucion­ário político e um símbolo da resistênci­a e esperança. Seu legado perdura como um farol para aqueles que ousam sonhar com um mundo onde a justiça e a igualdade sejam mais do que meras utopias. Os autointitu­lados revolucion­ários de redes sociais fazem tudo por um clique. É patético ver essa atitude e aqueles que acreditam neles.

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