O prefeito mandou amordaçar o menino do São Benedito
Ojornalista Luís Nassif revelou no seu perfil no Twitter, neste final de semana, que o prefeito Sérgio Azevedo mandou que seu depoimento para o documentário "Para Sempre Poços" fosse censurado na primeira exibição pública da obra, durante o aniversário de 150 anos da cidade, no domingo. A informação foi confirmada pelo produtor e, também, pelo diretor do filme ao jornalista Rodrigo Costa. O produtor, inclusive, estranhou, pois o depoimento não tinha conotação política, segundo seu entendimento, ; mas, mesmo tentando demover o poder executivo da decisão, a ordem foi peremptória. O que é possível concluir desse episódio sinistro? Em primeiro lugar: sim, tudo é político. Mesmo o inocente depoimento de Nassif. Tinha conotação eleitoral? Não vi, mas é fácil depreender que não: comecei a ler sua coluna na Folha de São Paulo nos anos 1990; ele sempre foi um entusiasta da história de Poços de Caldas, assunto que ele tratava com insistência no jornal de circulação nacional. Nassif, tido como de esquerda e uma figura relevante nos debates do destino do Brasil, ressalta no seu tuíte que o prefeito é bolsonarista. Isso por si só não deveria explicar o episódio de censura, mas explica e muito. De qualquer forma, antes de assumir seu bolsonarismo oportunista, Sérgio Azevedo pouco prezava a separação entre público e privado. Embolsou somas expressivas de dinheiro público ao não tirar férias seguidamente, por anos, assim também evitando que o então vice-prefeito Flávio Faria, com quem vivia às turras numa aliança malajambrada, assumisse o cargo, nem que por poucos dias. Quando essa figura antiética, irresponsável com o erário e com delírios persecutórios vê-se diante de alguém realmente relevante no cenário político, econômico e cultural, faz o quê? O pouco que sabe: trata como sua propriedade particular uma obra de arte financiada com recursos públicos. Há muito tempo, um velho jornalista da cidade me contou que o falecido ex-prefeito Ronaldo Junqueira, a pedido da esposa, riscava pessoalmente faixas de vinil das músicas que ela não gostava, impedindo que tocassem de novo na rádio mantida pelo município. O ato mesquinho podia passar batido àquela época ditatorial, mas emular o coronelismo d'antanho é um escárnio com qualquer traço de civilidade. Nassif cita também que já escreveu dois livros sobre a história de Poços. Sinto muito, mas isso é muita ingenuidade. Na minha posse na Academia Poços-Caldense de Letras, da qual não faço mais parte, Sérgio estava presente. Fez um discurso no qual não soube citar um livro, mas disse que gostaria de escrever uma autobiografia. Vai precisar de um ghostwriter, pois, para mim, ficou patente que ele não tem o hábito da leitura - não saberá escrever, portanto. Ou o fará com a mesma habilidade que tem para encarar o contraditório, o dissenso e a democracia.