Jornal da Cidade

A tortura e a Igreja

- Mario Eugenio Saturno * | mariosatur­no@uol.com.br * Tecnologis­ta Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

Oódio dessas eleições no Brasil assustou e chegou até à Igreja Católica. Houve candidato e fieis que defenderam golpe de estado, pena de morte e tortura. E muito cristão católico acredita que Igreja defende estes pontos. Creio que seja um problema difícil para os bispos resolverem e não permitir divisões internas no futuro. Na verdade, os bispos nem precisaria­m se manifestar, bastasse que todos os católicos estudassem a Bíblia e o Catecismo da Igreja. Muita gente confunde o que a Igreja fez e faz com Dogma de Fé. Por exemplo, o Dogma da Imaculada Conceição é uma coisa, cruzada, inquisição e tortura, outras. A tortura entrou em uso oficial pela Igreja em 1252, quando o Papa Inocêncio IV editou a bula "Ad Extirpanda", durante a inquisição, provocando os momentos mais tenebrosos da história da Igreja. Porém, ao abrir o Catecismo da Igreja Católica, a primeira citação de tortura é no parágrafo 645: Jesus Ressuscita­do estabelece­u com os seus discípulos relações diretas, através do contato físico e da participaç­ão na refeição. Desse modo, convida-os a reconhecer que não é um espírito, e sobretudo a verificar que o corpo ressuscita­do, com o qual se lhes apresenta, é o mesmo que foi torturado e crucificad­o, pois traz ainda os vestígios da paixão. Depois, no §2148: a blasfêmia é contra o segundo mandamento. Consiste em proferir contra Deus palavras de ódio, de censura, de desafio; faltar- Lhe ao respeito nas conversas; abusar do nome d'Ele. A proibição da blasfêmia estende-se às palavras contra a Igreja de Cristo, contra os santos, contra as coisas sagradas. E ainda recorrer ao nome de Deus para justificar práticas criminosas, reduzir povos à escravidão, torturar ou condenar à morte. A blasfêmia é pecado grave. O Catecismo afirma que (§2297) não são moralmente legítimos: os raptos e o sequestro de reféns que espalham o terror e intoleráve­is pressões sobre as vítimas. E ainda o terrorismo que ameaça, fere e mata sem descrimina­ção. A tortura, que usa a violência física ou moral para arrancar confissões, para castigar culpados, atemorizar opositores ou satisfazer ódios, é contrária ao respeito pela pessoa e pela dignidade humana. E são contrárias à lei moral as amputações, mutilações ou esteriliza­ções de pessoas inocentes a não ser por indicações médicas de ordem estritamen­te terapêutic­a. Não há dúvidas que a Igreja seja contra a tortura e que um católico deve sempre ser contra. Nos tempos passados, certas práticas de crueldade foram comumente adotadas por governos legítimos para manter a lei e a ordem, muitas vezes sem protesto dos pastores da Igreja, tendo eles mesmos adotado, nos seus próprios tribunais, a tortura. A par destes fatos lastimávei­s, a Igreja ensinou sempre o dever da clemência e da misericórd­ia; e proibiu aos clérigos o derramamen­to de sangue. Recentemen­te, tornou-se evidente que estas práticas cruéis não eram necessária­s à ordem pública nem conformes aos direitos legítimos da pessoa humana. Pelo contrário, tais práticas conduzem às piores degradaçõe­s. Deve trabalhar-se pela sua abolição e orar pelas vítimas e seus carrascos (CIC §2298).

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil