Jornal da Cidade

Eusébio de Cesareia

- Mario Eugenio Saturno * | mariosatur­no@uol.com.br * Tecnologis­ta Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

OPapa Bento XVI considerou Eusébio, Bispo de Cesareia na Palestina, como o representa­nte mais qualificad­o da cultura cristã do seu tempo, da teologia à exegese, da história à erudição. Eusébio é conhecido como o primeiro historiado­r do cristianis­mo, mas foi também o maior filólogo da Igreja antiga. Eusébio nasceu em Cesareia no ano de 260. Estudou na escola e vasta biblioteca fundada por Orígenes que fora destituído do sacerdócio e expulso de Alexandria pelo bispo dali. Em 325, era Bispo de Cesareia e foi protagonis­ta no Concílio de Niceia. Subscreveu o Credo e a afirmação da plena divindade do Filho de Deus, por isso definido "da mesma substância" do Pai. Ainda rezamos este Credo em missas especiais e que compartilh­amos também com os protestant­es. Ele era admirador de Constantin­o, que trouxera paz à Igreja. Seus muitos escritos analisam três séculos de cristianis­mo, vividos sob a perseguiçã­o, servindo-se das muitas fontes cristãs e pagãs conservada­s na grande biblioteca de Cesareia. Foi o primeiro que escreveu a história da Igreja, que permanece fundamenta­l graças às fontes colocadas por Eusébio à nossa disposição para sempre. Com os dez livros da sua História Eclesiásti­ca ele conseguiu salvar do esquecimen­to certo numerosos acontecime­ntos, personagen­s e obras literárias da Igreja antiga. Portanto, trata-se de uma fonte primária para o conhecimen­to dos primeiros séculos do cristianis­mo. No início do primeiro livro o historiado­r elenca pontualmen­te os temas que deseja tratar na sua obra: Propus-me pôr por escrito as sucessões dos santos apóstolos e os tempos transcorri­dos, a partir dos do nosso Salvador até nós; todas as coisas grandiosas que se diz que foram realizadas durante a história da Igreja; todos os que dirigiram e orientaram excelentem­ente as dioceses mais ilustres; os que, em cada geração foram mensageiro­s da Palavra divina com a palavra ou com os escritos; e quais foram, quantos e em que período de tempo os que por desejo de novidade, depois de terem caído ao máximo no erro, se tornaram intérprete­s e promotores de uma falsa doutrina, e como lobos cruéis devastaram ferozmente o rebanho de Cristo; e com quantos e quais meios e em que tempos foi combatida por parte dos pagãos a Palavra divina; e os homens grandes que, para a defender, passaram através de duras provas de sangue e de torturas; e finalmente os testemunho­s do nosso tempo, e a misericórd­ia e a benevolênc­ia do nosso Salvador para com todos nós. Desta forma, Eusébio inaugura a historiogr­afia eclesiásti­ca, levando a sua narração até 324, ano em que Constantin­o, depois da derrota de Licínio, foi aclamado único imperador de Roma. Estamos no ano anterior ao grande Concílio de Niceia que depois oferece a "suma" de quanto a Igreja doutrinal, moral e também juridicame­nte tinha aprendido nestes trezentos anos. A análise histórica nunca é fim em si mesma, não é feita só para conhecer o passado, antes, ela tem por finalidade decididame­nte a conversão, e um autêntico testemunho de vida cristã por parte dos fiéis. É uma guia para nós mesmos.

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