Jornal da Cidade

Para homens ou mulheres, o mesmo cuidado com o coração

- * Médica cardiologi­sta

AEliana Fonseca *

s mulheres vivem mais do que os homens. Essa afirmação pode provocar certos incômodos, mas ela pode ser comprovada em qualquer índice de expectativ­a de vida que exista mundo afora. No Brasil, apenas para se ter um parâmetro, em 2020, a expectativ­a de vida dos homens era de 73,3 anos, enquanto para as mulheres era de 80,3 anos. Os dados são do IBGE, e não consideram a mortalidad­e provocada pela covid-19. A explicação dos especialis­tas é de que os homens são mais suscetívei­s a beber e a fumar, e também tendem a sofrer mais com os problemas cardiovasc­ulares. No entanto, o que se vem observando nos últimos anos é uma redução desse abismo. As mulheres estão assumindo com mais vigor hábitos de vida bastante parecidos com os dos homens. Consequent­emente,asdoençasc­ardíacas,anteriorme­nte mais frequentes no sexo masculino, estão ocorrendo quase que com a mesma frequência entre ambos os sexos. Um estudo global, desenvolvi­do por pesquisado­res da Universida­de de Gotemburgo, na Suécia e publicado na revista The Lancet, atesta que homens e mulheres estão igualmente expostos aos problemas do coração, ao contrário do que se observava antes. A pesquisa, realizada com 155 mil indivíduos com idades entre 35 e 70 anos, foi feita em 21 países espalhados­peloscinco­continente­s.Esteimenso grupo foi monitorado ao longo de 10 anos, e todos iniciaram o acompanham­ento sem nenhum histórico de doença cardiovasc­ular. Porém, após uma década, o que se viu foi

uma diferença não muito distante entre homens e mulheres que desenvolve­ram alguma doença cardiovasc­ular. No grupo de quase 91 mil mulheres que participar­am das análises, houve 5,0 casos de AVC, doença cardiovasc­ular ou ataque cardíaco por ano, para cada mil pessoas. No caso dos homens, que formavam pouco menos de 65 mil indivíduos,foramregis­trados8,2casospara­cada mil pessoas. Esse estudo é revolucion­ário do ponto de vista da sua estatístic­a, porque nos revela uma realidade com a qual a humanidade não se debruçava antes. Nas últimas décadas era natural preocupar-se mais com asaúdedoho­mem,jáqueosmes­mostinham menor expectativ­a de vida e um desprezo mais acentuado às consultas médicas periódicas. Entretanto, estudos como o da Universida­de de Gotemburgo colocam as mulheres num cenário de preocupaçã­o com sua saúde, sobretudo no tocante à do coração. Evidenteme­nte que esse nivelament­o entre mulheres e homens é preocupant­e, porque ele ocorre por baixo. Não são os homens que aderiram a hábitos de vida mais saudáveis, aproximand­o-se assim do contexto feminino, mas são elas é quem estão abdicando dos cuidados com a saúde e fazendo uso de alimentos, bebidas e fumo com mais frequên-cia, afetando diretament­e suas condições cardíacas. A recomendaç­ão hoje é bastante clara: ambos precisam se cuidar mais, pois o coração não vê cara e sexo.

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