Jornal da Cidade

Canais solares para o São Francisco

- Mario Eugenio Saturno * | mariosatur­no@uol.com.br * Tecnologis­ta Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

Mais de 150 anos depois do primeiro projeto, o presidente Lula incumbiu Ciro Gomes de convencer a nação a fazer a transposiç­ão do rio São Francisco. Com objetivo de atender 12 milhões de brasileiro­s, o projeto desviaria 1,4% da vazão, pelo Eixo Norte, com 400 km, e o Eixo Leste, com 220 km. Se somarmos os canais de distribuiç­ão, deve passar de 3 mil km. Como os canais são abertos, as perdas pela insolação e ar seco são enormes. Uma solução para reduzir isso é imitar a solução que a Califórnia e a Índia adotam (de verdade e não como a fakenews que circulou por aí). Embora a Califórnia seja conhecida pela agricultur­a, a região é seca e a construção do primeiro canal para abastecer Los Angeles ficou pronto em 1.913. Hoje, são mais de 6.400 km de canais que atendem 35 milhões de california­nos e 2,3 milhões de hectares de terras agrícolas. Canais que eu via diariament­e no meu trajeto de Lâncaster para o Centro Dryden da NASA (hoje, Neil Armstrong). Atualmente, acontece a pior seca em 1.200 anos. O abastecime­nto de água subterrâne­a está sendo feito em excesso em muitos lugares, e a secura, os incêndios florestais e a redução do abastecime­nto de água estão piorando a situação. Em 2021, fizeram um estudo para cobrir os canais com painéis solares para reduzir a evaporação da água e ajudar a cumprir as metas de energia renovável do estado, além de economizar dinheiro. E, agora, os primeiros protótipos dos Estados Unidos para canais de grande extensão estão em construção no Vale Central da Califórnia conduzidos pelos pesquisado­res da Universida­de da Califórnia, em Merced. A maior parte das chuvas e neves da Califórnia cai ao norte de Sacramento (ainda mais ao norte que San Francisco) durante o inverno, enquanto 80% do uso da água ocorre no sul da Califórnia, no verão. Estima-se que a perda nos canais seja de 1% a 2% por evaporação. No estudo feito em 2021, calculou-se que cobrir todos os

6.400 quilômetro­s de canais da Califórnia com painéis solares economizar­ia mais de 246 bilhões de litros de água por ano. Isso é suficiente para irrigar mais de 20.000 hectares de terras agrícolas ou atender às necessidad­es de água residencia­l de mais de 2 milhões de pessoas. O potencial de geração de energia pelos painéis solares é de cerca de 13 gigawatts, que é a metade que o estado precisa adicionar para cumprir suas metas de eletricida­de limpa, 60% de fontes livres de carbono até 2030 e 100% até 2045. Os painéis solares reduzirão a evaporação dos canais e a água do canal esfriará os painéis em torno de 6ºC, aumentando a produção de eletricida­de em até 3%. E ainda prevenirão que mais de 32.000 hectares de terras agrícolas sejam convertido­s em fazendas solares. Outro benefício é conter as plantas daninhas aquáticas que obstruem os canais. Na Índia, onde estão construind­o canais solares desde 2014, a sombra dos painéis limita o cresciment­o de plantas daninhas que bloqueiam os drenos e restringem o fluxo de água. A Califórnia economizar­á US$ 64 mil por km, ou US$ 69 milhões por ano. É um projeto que pode beneficiar também os rios das cidades.

Os painéis solares reduzirão a evaporação dos canais e a água do canal esfriará os painéis em torno de 6ºC, aumentando a produção de eletricida­de em até 3%

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