Ronaldinho Gaúcho
Quando me perguntam qual foi o maior pontadireita brasileiro, digo que foi Julinho. Aí, vem o espanto: e Garrincha? Digo que Garrincha não foi jogador de futebol, foi um misto de anjo e acrobata, docemente irresponsável, que fazia do futebol uma atividade lúdica como outra qualquer, da qual se aproveitava para gozar a vida da forma mais leve e prazerosa. Tanto que nunca revidou as faltas desleais e até criminosas que sofria, sem se interessar pela qualidade técnica ou pela fragilidade do adversário que iria marcá-lo.
Ronaldinho Gaúcho se assemelha a Garrincha na forma de ser. Seu futebol era alegre e fora do comum. Nos áureos tempos, exibia um controle de bola perfeito, um gingado de corpo sensacional, o que facilitava fintas espetaculares, uma velocidade fantástica e uma visão de gol perfeita. Além de tudo, passava com açúcar e foi artilheiro. Nunca vi, nos meus 78 anos de futebol, um gol igual àquele que ele fez, de bola parada, na Inglaterra. Aquela bola foi impulsionada por que entidade? Até hoje ninguém sabe explicar.
Como todos os atletas, alguns jogadores de vôlei, basquete e futebol duram muito, outros duram pouco. Na década de 60, o Botafogo do Rio tinha um centroavante mulato, de cabelos lisos e negros, exímio artilheiro. Oswaldo foi comprado do São Paulo, e, numa decisão de campeonato paulista, foi flagrado numa boate, com uma bela loura, pelo famoso locutor esportivo Oduvaldo Cozzi, que o abordou: "Você não vai jogar a decisiva amanhã contra o Corinthians? O que está fazendo aqui?". E Oswaldo: “Você também não está aqui?” E Cozzi: “Estou, mas não vou jogar amanhã contra o Corinthians!”.
Não vou enumerar os grandes craques que abreviaram a carreira no alcoolismo. Isso acontece também com os esportistas do mundo inteiro, agravado pelas drogas. Fica a impressão de que homens de talento e inteligência superiores não suportam o peso da glória e procuram viajar num mundo diferente e “ideal” de nirvana. O problema é que, quando exageram na dose, morrem mais cedo. Tudo isso é inerente à condição humana. O homem é o que é.
Entrevistado sobre a decadência de Ronaldinho, Tostão filosofou, como sempre, com sabedoria: “Ele preferiu viver a vida”. Triste para nós, admiradores do seu brilhante futebol, é vê-lo na cadeia, de outro país, num constrangedor crepúsculo existencial. E pensar que ele foi eleito duas vezes o maior jogador do mundo.