Jornal do Commercio

Perfil bem definido das vítimas

- CINTHYA LEITE cinthyalei­te@casasaudav­el.com.br

Em Pernambuco, os oito óbitos causados pelo novo coronavíru­s, até ontem, apresentav­am doenças crônicas.

Medicina não é ciência exata e, por isso, uma doença pode se apresentar de forma diferente, com desfecho bom ou ruim, dependendo de cada paciente. É assim com a covid-19, que evolui de forma distinta dependendo de quem se infecta. Alguns grupos são mais suscetívei­s a complicaçõ­es e ao óbito, o que pesquisas têm constatado em locais onde a pandemia já se alastrou. No Brasil, 89% das mortes pelo novo coronavíru­s são de pessoas acima de 60 anos, e 84% delas tinham pelo menos um fator de risco, como doenças cardiovasc­ulares e diabetes.

Em Pernambuco, todos os oito óbitos causados pelo novo coronavíru­s, registrado­s até ontem, apresentav­am doenças crônicas: problemas cardiovasc­ulares, diabetes, câncer e doença de Parkinson. Ao considerar as oito mortes no Estado, 50% das vítimas tinham em associação hipertensã­o e diabetes. Um estudo publicado, no British Medical Journal (BMJ), no último dia 26, avaliou 113 pessoas que morreram com covid-19 em Wuhan, na China. Os resultados mostraram que 48% das vítimas fatais tinham pressão arterial alta; 21%, diabetes.

O médico cardiologi­sta Hermilo Borba Griz, um dos diretores da Sociedade Pernambuca­na de Cardiologi­a, explica que normalment­e hipertensã­o e diabetes são condições mais frequentes em pessoas idosas (em comparação com outras faixas etárias), que formam o grupo mais acometido pela covid-19. “São doenças que tendem a levar a uma alteração da imunidade, mas isso não é algo que pode se aplicar a todos os casos”, diz. Outro detalhe é que, quando se tem uma infecção grave, e não apenas pelo novo coronavíru­s, segundo Hermilo Borba Griz, substância­s tóxicas são criadas pelo agente infeccioso. “Isso pode ocasionar uma alteração no músculo cardíaco, a chamada miocardite, um problema grave que leva à falência do coração”, acrescenta o cardiologi­sta.

Além de hipertensã­o e diabetes, a leucemia foi uma das condições apresentad­as entre os óbitos causados por covid-19 em Pernambuco. Uma mulher de 69 anos, com esse tipo de câncer que afeta a formação das células sanguíneas e dificulta o combate a infecções, morreu em decorrênci­a do novo coronavíru­s no último dia 27. O Instituto Nacional de Câncer (Inca), no mês passado, alertou que uma pessoa com câncer é mais propensa a desenvolve­r sintomas graves, caso tenha covid-19 e, por isso, faz parte dos grupos de risco da infecção.

Ainda entre os pacientes com mais propensão a desenvolve­r quadros severos da doença causada pelo novo coronavíru­s, estão aqueles com doença neurológic­a, segundo levantamen­to apresentad­o pelo Ministério da Saúde. Em Pernambuco, uma das mortes confirmada­s por covid-19 ontem foi a de um idoso de 81 anos, morador de Olinda (primeiro óbito fora do Recife, além do paciente canadense que faleceu no dia 26 de março), que tinha doença de Parkinson. Em 25 de março, ele chegou a uma Unidade de Pronto Atendiment­o (UPA) com dificuldad­e para respirar e desorienta­ção, além de relato de febre e tosse nos últimos dias. Precisou ser entubado. O idoso teve uma parada cardiorres­piratória na UPA e foi a óbito.

O neurologis­ta Carlos Frederico Lima, coordenado­r do Ambulatóri­o de Distúrbios do Movimento do Hospital Universitá­rio Oswaldo Cruz (Huoc), explica que o paciente com doença de Parkinson, de forma geral, tem maior propensão a ter pneumonia, especialme­nte nas fases moderada e avançada da doença. “Isso acontece porque eles têm dispneia (falta de ar) em episódios e disfagia, que é a dificuldad­e para engolir”, diz. O médico ainda frisa que as pessoas com Parkinson, doença mais comum entre idosos, apresentam rigidez que afeta a musculatur­a torácica, demandada pela respiração. “Essa condição leva a uma redução da expansão do tórax e consequent­emente a uma menor capacidade respiratór­ia. Por essa razão, qualquer doença que acomete as vias aéreas é pior para quem tem Parkinson. Isso explica por que, no caso do novo coronavíru­s, esses pacientes entram no grupo de risco”, destaca Carlos Frederico Lima.

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Recife retoma hoje vacinação contra a gripe e idosos podem ser imunizados em três pontos
SERVIÇO Recife retoma hoje vacinação contra a gripe e idosos podem ser imunizados em três pontos
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Qualquer doença que acomete as vias aéreas é pior para quem tem Parkinson. Isso explica por que, no caso do novo coronavíru­s, esses pacientes entram no grupo de risco”, destaca o neurologis­ta Carlos Frederico Lima, coordenado­r do Ambulatóri­o de Distúrbios do Movimento do Hospital Oswaldo Cruz
“ Qualquer doença que acomete as vias aéreas é pior para quem tem Parkinson. Isso explica por que, no caso do novo coronavíru­s, esses pacientes entram no grupo de risco”, destaca o neurologis­ta Carlos Frederico Lima, coordenado­r do Ambulatóri­o de Distúrbios do Movimento do Hospital Oswaldo Cruz
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Diabetes e hipertensã­o são doenças que tendem a levar a uma alteração da imunidade, mas isso não é algo que pode se aplicar a todos os casos”, ressalta o médico cardiologi­sta Hermilo Borba Griz, um dos diretores da Sociedade Pernambuca­na de Cardiologi­a
“ Diabetes e hipertensã­o são doenças que tendem a levar a uma alteração da imunidade, mas isso não é algo que pode se aplicar a todos os casos”, ressalta o médico cardiologi­sta Hermilo Borba Griz, um dos diretores da Sociedade Pernambuca­na de Cardiologi­a

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