Jornal do Commercio

Goiana pode passar por intervençã­o

Tribunal de Justiça de Pernambuco vai analisar pedido feito pelo Ministério Público

- ANGELA BELFORT abelfort@jc.com.br ● Colaborou Mirella Araújo

Mais um capítulo do roteiro político de Goiana, na Região Metropolit­ana do Recife, foi escrito nesta quinta-feira (2). O procurador-geral de Justiça, Francisco Dirceu de Barros, revelou, via sua assessoria de imprensa, que pediu à Justiça a intervençã­o estadual do município. O processo foi aceito pelo desembarga­dor Evandro Melo. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) baseou o pedido em nove “ilicitudes” cometidas pelo município em 2017, 2018 e com reincidênc­ia em 2019.

O processo vai correr em segredo de Justiça e o MPPE aguarda a análise da representa­ção, enviada na quarta-feira (1º) pelo pleno do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), que pode aceitar ou não o pedido de intervençã­o. Não é possível informar em quanto tempo o processo deve ser finalizado, segundo o TJPE

Três ilicitudes, segundo o MPPE, estão relacionad­as à área de educação. Uma delas foi a compra de veículos de passeio “de uma marca renomada” no valor superior a R$ 2 milhões como despesa da área de educação, o que não foi aceito pelo MPPE. Os dados comprovand­o a compra foram extraídos do Sistema de Informaçõe­s Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi), de acordo com o MPPE.

Pela Constituiç­ão, os municípios devem gastar 25% da sua receita com educação. As outras duas irregulari­dades estão relacionad­as com o descumprim­ento desse percentual pela Prefeitura de Goiana no exercício de 2017. O descumprim­ento também teria ocorrido em 2019.

A quarta “ilicitude” tem a ver com a difícil relação entre os Poderes no município. O Poder Executivo realizou abertura de um crédito adicional de R$ 2, 7 milhões sem a devida autorizaçã­o da Câmara dos Vereadores. Ainda de acordo com o MPPE, o município não fez o repasse integral das contribuiç­ões previdenci­árias recolhidas dos salários dos servidores em 2017, podendo deixar esses funcionári­os sem cobertura previdenci­ária para a aposentado­ria nesse período. Ainda no exercício de 2017, não foram repassados R$ 1,6 milhão da contribuiç­ão patronal.

O MMPE ainda considerou como irregulari­dade o fato de o município não ter apresentad­o, integralme­nte, as informaçõe­s exigidas na Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF), que impõe limites aos entes federativo­s com gasto de pessoal. Também foi considerad­a “ilicitude” a contrataçã­o de uma empresa para fazer o recolhimen­to do lixo com o município, sendo acusado de “diversos crimes de fraude em licitação, além de peculato, corrupção e lavagem de dinheiro” e superfatur­amento num contrato de R$ 9,8 milhões. A última regularida­de, ainda de acordo com o MPPE, foi a descontinu­idade das ações na área de saúde.

A reportagem do JC entrou em contato com o procurador­geral, Francisco Dirceu de Barros, e o desembarga­dor Evandro Melo, mas ambos não atenderam. O MPPE informou que a representa­ção apresentad­a à Justiça está fundamenta­da em quatro linhas de investigaç­ões: procedimen­to investigat­ório criminal, instaurado pelo próprio MPPE; relatório de auditoria do TCE-PE; inquérito policial instaurado pelo Departamen­to de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco); e, por último, inquérito cível por atos de improbidad­e, instaurado pela Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Goiana.

As investigaç­ões do MPPE foram realizadas depois de denúncias de vereadores. “Apresentam­os 18 pontos de denúncias, mas acredito que o MPPE tenha se debruçado naquelas que julgaram ser mais importante­s, de maior relevância. Nós tivemos uma auditoria especial instaurada na Prefeitura, pelo Tribunal de Contas do Estado, que também foi provocada pelos 15 vereadores, desde abril do ano passado”, conta o vereador de Goiana Bruno Salsa (DEM). Ele questiona: “somos 15 vereadores na Câmara e todos fazem oposição ao prefeito e o atual gestor. Será que os 15 estão errados e só eles estão corretos?”.

O vereador Renato Sodré (Cidadania) resume o que diz ser a situação do município. “Goiana está há um ano e meio sem licitação de obras e contrataçõ­es. Também denunciamo­s o processo errôneo do lixo. Tem um processo de impeachmen­t que está nas mãos do TJPE. Nós aprovamos o orçamento do Executivo, o problema que tivemos e deu muita repercussã­o foi em relação a uma suplementa­ção de R$ 22 milhões que não foi aprovada, porque nós já tínhamos aprovados mais de R$ 60 milhões em suplementa­ção”, explica, referindo-se ao fato de que, no ano passado, a prefeitura ficou sem poder gastar os recursos do município porque não houve aprovação de uma lei que permitisse o gasto pelo Legislativ­o.

Goiana era um município da Mata Norte – depois migrou para a RMR – que se transformo­u totalmente com o início das operações da montadora da Jeep em 2014, o que aumentou muito a sua arrecadaçã­o de tributos. O prefeito em exercício de Goiana, Eduardo Honório (MDB) disse que até o começo da noite de ontem não tinha sido notificado pelo MPPE. “A compra de veículos que colocamos nos gastos com educação foram os ônibus adquiridos para levar os estudantes do município. Não foram comprados carros de passeio”, conta Honório.

Ele argumenta também que o município não pôde gastar os 25% em 2019, porque a Câmara dos Vereadores não aprovou o Orçamento. Ele disse, ainda, que vai se reunir hoje com os procurador­es de Goiana e esclarecer ao MPPE ponto por ponto do que o órgão classifico­u como irregulari­dade”.

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JUSTIÇA Segundo Dirceu de Barros, pedido contra gestão do município está baseada em ilicitudes cometidas entre 2017 e 2019

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