Jornal do Commercio

Pacto de confiança

- ● Eduardo Carvalho, Diretor da ABA Global Education/Harvard fellow EDUARDO CARVALHO

OBrasil vive uma grave crise de confiança, que fica patente pelos indicadore­s do World Economic Forum. O relatório de competitiv­idade global 2018 (base 2017) destaca que o país tem o pior indicador de confiança nos políticos, entre 137 países pesquisado­s. No relatório de 2019 (base 2018), 141 países foram pesquisado­s, mas esse indicador não foi divulgado. Entretanto, há outros que têm correlação com a desconfian­ça dos brasileiro­s nas instituiçõ­es, gerando ineficiênc­ia, incerteza e até pânico. O poder judiciário foi avaliado pelos indicadore­s: independên­cia do poder e eficiência do sistema, classifica­ndo-se respectiva­mente nas posições 79º e 115º. A governança do setor público foi avaliada pela burocracia, entre outros indicadore­s, sendo considerad­o o país mais burocrátic­o. Esses trágicos indicadore­s têm como grave consequênc­ia, entre outras, a institucio­nalização do crime organizado, que ficou na posição 132º.

O filósofo Tom Morris define que confiança é o lubrifican­te para as relações humanas. Stephen Covey, autor do livro O Poder da Confiança, define um modelo para avaliar o processo de confiança, baseado em “Contas de Confiança”. Elas são semelhante­s às “Contas Bancárias”, com depósitos e saques referentes às relações entre as pessoas e instituiçõ­es. Ao avaliar a confiança da governança do país, o povo analisa as práticas de comunicaçã­o, competênci­a, ética e imparciali­dade dos atores desse sistema, traduzidas em políticas, leis, ações, resultados para o bem-estar da sociedade.

Erros acontecem e são superados. Entretanto, o ciclo destrutivo de uma nação ocorre quando a confiança se deteriora amplamente e o pânico se instala. No estado pré-pânico, surgem as patologias, criando uma reação de atitudes e comportame­ntos negativos em cadeia: as críticas, a culpa e o isolamento aumentam. De modo concomitan­te, o respeito, a colaboraçã­o e as iniciativa­s diminuem, conclui a professora Rosabeth Kanter, da Universida­de Harvard.

O sistema doente pode ser recuperado. Os representa­ntes dos poderes executivo, legislativ­o e judiciário precisam fazer um pacto de confiança e formar uma liderança transforma­dora. Devem atuar colaborati­vamente para recuperar a credibilid­ade, compreende­ndo os problemas multidimen­sionalment­e, comunicand­o-se com o povo de forma coerente e sincera, com um plano de curto e longo prazo e com prioridade­s claras para resolvê-los. É essencial que, regularmen­te, apresentem indicadore­s de desempenho. Toda a equipe necessita estar comprometi­da com o plano, que deve ter iniciativa­s inovadoras e eficazes diante da gravidade dos problemas do país. Só assim, o povo pode crer que o país avança positivame­nte.

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