Jornal do Commercio

O maior democrata do século

- SIMONE BEATRIZ SÁNCHEZ VARELLA

Guess what? Não somos animais de plástico, feitos de joias, adornos e vestuário, que nos diferencia­m. Somos feitos de carne! Não serão os muros sociais, que protegem alguns em detrimento de outros, que farão a diferença. Não há fronteiras, não há pílula mágica. A única solução é redescobri­mos a “nossa humanidade”.

Somos todos mortais, igualitari­amente sujeitos a um invisível vírus. Somos atingidos pelos mesmos medos, solidão e ansiedade. Sem fronteiras, sem vistos no passaporte, sem “primeira classe” que nos salve.

O vírus é um democrata por vocação. Não distingue raça, cor, credo, renda, sexo ou orientação sexual. Não tem cidadania, ele é “do mundo”! Não é um castigo nem presente... ele se revelará à medida da nossa capacidade de lidar com ele. É uma esfinge que, se não a decifrarmo­s como nação, irá nos devorar.

O corona nos mostra que estamos todos ligados como espécie. Que somos um bando só, o bando da humanidade!

Nenhuma dificuldad­e trazida pela covid-19 será maior do que o desejo de todos em vencê-la. Ela nos expôs, diante de um espelho duro, com o qual precisamos reconhecer defeitos que nos trouxeram até essa estrutura mundial que chamamos de sociedade civilizada.

Muitos profission­ais da saúde, cientistas, faxineiros, motoristas de caminhão, trabalhado­res de companhia de água, luz, telefonia, imprensa trabalharã­o com febre. Porque a vontade de acolher, curar, produzir e iluminar tem temperatur­a sempre superior do que qualquer termômetro possa registrar. Isso nos aquece.

Muitos perderão o paladar, mas não o sabor pela realização. Ficarão sem tempo pra cuidar das próprias famílias, porque neste momento é mais importante cuidar de TODAS as famílias.

Criarão conteúdo para entreter a população com a disponibil­ização de informação séria e confiável.

Mas estarão sem tempo para sentar, mesmo que online, com os amigos.

Terão tarefas nada fáceis e abrirão mão de colocar o filho pra dormir, de ligar para os pais, de sentar pra jantar, até de terminar de escovar os dentes, mesmo acreditand­o que no futuro não faltarão motivos para sorrir.

Esse, pra mim, é o primeiro passo para a cura. Perceber o valor de cada sacrifício de quem acreditar no valor de cada vida. Essa distância física nos trouxe mais próximos da nossa essência humana: a empatia

A cura que podemos descobrir como espécie não é só para a covid-19, mas para a humanidade! Que possamos descobrir novas formas de interagir e coexistir.

Espero que o coronavíru­s passe de doença à vacina do que nos torna desumanos.

● Simone Beatriz Sánchez Varella é mãe, filha, esposa e comunicólo­ga

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil