Um médico humano antes de tudo
Há 31 anos, mais ou menos, de noite, tive uma dor no peito, vomitei e disse ao meu marido, estou tendo um enfarte, já que havia casos na família. Ele achou que era um embaraço gástrico, de uma macarronada que eu comera. De qualquer maneira fomos a dois atendimentos emergenciais e depois ao Unicordis, que funcionava na Avenida Conselheiro Aguiar, onde funcionou por muitos anos.
Lá um médico plantonista me atendeu. Ele disse “ela está tendo um enfarte e terá que ir para a unidade da Rosa e Silva, já que esta, a de Boa Viagem, está lotada”. Meu marido disse “de carro comigo”. O médico disse “de ambulância comigo”.
Este médico era um dos fundadores do Unicordis e não um simples plantonista. Seu nome: Ênio Lustosa Cantarelli, que foi meu cardiologista por muitos anos, embora não tivesse atendimento por plano de saúde, e eu tinha a Cassi, pois meu marido foi do Banco do Brasil. Mas que se tornou meu amigo e um orientador de vida. Quando ia a ele, não obedecia as idas anuais, ele reclamava e mandava fazer os exames e dizia entregue-os à recepção. Se houver algum problema telefono.
Como sou muito de seguir as recomendações médicas que recebo, embora não goste de médicos, meu pai foi médico, meu tio materno também e irmã gêmea seguiu o mesmo caminho, sempre as taxas melhoravam e nunca ele precisou telefonar.
Lembro que o encontrei uma vez no hotel São Vicente de Paula, em Caruaru, e ele falou que eu não ia fazer a consulta anual. A mulher dele, Eliane, também médica, riu, porque eu disse “você reclama e teve também enfarte porque trabalha demais”.
Outra recordação: orientei um aluno na monografia final do curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, da Escola Superior de Marketing, André de Barros e Baltar Fernandes Ribeiro, com o tema Publicidade de medicamentos: responsabilidade social das agências de publicidade. Ele obteve dez da banca examinadora.
Como era funcionário do Procape, hospital idealizado, sonhado e concretizado por Ênio Cantarelli, que o dirigia no momento, obteve como prêmio uma bolsa de estudos para realizar um curso de especialização, o que muito me orgulhou.
Quando precisei fazer meu primeiro implante dentário, foi ele que deu o parecer cardiológico. Mas quando precisei de outro, há alguns meses atrás, ele já estava aposentado e indicou um outro colega. Quando conversamos pelo telefone ele indagou “e as viagens, ainda está viajando muito?”
Fiquei emocionada quando soube que ele se encantara e gostei muitos das muitas notas de homenagem ao médico e homem que ele foi. Também gostei muito dos artigos de Pablo Lustosa, seu sobrinho, e de Sergio Gondim, médico. Você se encantou, mas deixou em todos nós, inclusive seus clientes, uma lembrança do médico e homem doce que você era. Breve nos encontraremos e bateremos aquele papo. Descanse em paz, meu bom amigo...