Jornal do Commercio

Um médico humano antes de tudo

- LÚCIA NOYA GALVÃO lucianoyag­alvao@uol.com.br ● Lúcia Noya Galvão é jornalista e professora universitá­ria

Há 31 anos, mais ou menos, de noite, tive uma dor no peito, vomitei e disse ao meu marido, estou tendo um enfarte, já que havia casos na família. Ele achou que era um embaraço gástrico, de uma macarronad­a que eu comera. De qualquer maneira fomos a dois atendiment­os emergencia­is e depois ao Unicordis, que funcionava na Avenida Conselheir­o Aguiar, onde funcionou por muitos anos.

Lá um médico plantonist­a me atendeu. Ele disse “ela está tendo um enfarte e terá que ir para a unidade da Rosa e Silva, já que esta, a de Boa Viagem, está lotada”. Meu marido disse “de carro comigo”. O médico disse “de ambulância comigo”.

Este médico era um dos fundadores do Unicordis e não um simples plantonist­a. Seu nome: Ênio Lustosa Cantarelli, que foi meu cardiologi­sta por muitos anos, embora não tivesse atendiment­o por plano de saúde, e eu tinha a Cassi, pois meu marido foi do Banco do Brasil. Mas que se tornou meu amigo e um orientador de vida. Quando ia a ele, não obedecia as idas anuais, ele reclamava e mandava fazer os exames e dizia entregue-os à recepção. Se houver algum problema telefono.

Como sou muito de seguir as recomendaç­ões médicas que recebo, embora não goste de médicos, meu pai foi médico, meu tio materno também e irmã gêmea seguiu o mesmo caminho, sempre as taxas melhoravam e nunca ele precisou telefonar.

Lembro que o encontrei uma vez no hotel São Vicente de Paula, em Caruaru, e ele falou que eu não ia fazer a consulta anual. A mulher dele, Eliane, também médica, riu, porque eu disse “você reclama e teve também enfarte porque trabalha demais”.

Outra recordação: orientei um aluno na monografia final do curso de Comunicaçã­o Social, habilitaçã­o em Publicidad­e e Propaganda, da Escola Superior de Marketing, André de Barros e Baltar Fernandes Ribeiro, com o tema Publicidad­e de medicament­os: responsabi­lidade social das agências de publicidad­e. Ele obteve dez da banca examinador­a.

Como era funcionári­o do Procape, hospital idealizado, sonhado e concretiza­do por Ênio Cantarelli, que o dirigia no momento, obteve como prêmio uma bolsa de estudos para realizar um curso de especializ­ação, o que muito me orgulhou.

Quando precisei fazer meu primeiro implante dentário, foi ele que deu o parecer cardiológi­co. Mas quando precisei de outro, há alguns meses atrás, ele já estava aposentado e indicou um outro colega. Quando conversamo­s pelo telefone ele indagou “e as viagens, ainda está viajando muito?”

Fiquei emocionada quando soube que ele se encantara e gostei muitos das muitas notas de homenagem ao médico e homem que ele foi. Também gostei muito dos artigos de Pablo Lustosa, seu sobrinho, e de Sergio Gondim, médico. Você se encantou, mas deixou em todos nós, inclusive seus clientes, uma lembrança do médico e homem doce que você era. Breve nos encontrare­mos e bateremos aquele papo. Descanse em paz, meu bom amigo...

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