Saudades do que não vivemos
Nunca pensei que uma frase do jogador de futebol Neymar Jr – em referência ao título deste texto – pudesse fazer tanto sentido na minha vida. Quando meu pai, o advogado Antonio Carlos Monteiro – ou Monteirinho, como era chamado pelos amigos –, faleceu, há 10 meses, eu sabia que ele nos faria muita falta. Não imaginava, contudo, que eu seguiria sentindo tanta falta nas situações ainda não vividas com ele.
Essa pandemia é um grande exemplo. Situação nunca vivida por nós, nem sequer imaginada, que me faz pensar, diariamente, nas coisas que o meu pai estaria fazendo.
Certamente, já teria estabelecido regras de enfrentamento financeiro à pandemia, com vários horizontes, tanto para o escritório quanto para as despesas de casa. E nos falaria, com muita propriedade, sobre recessão, planejamento, finanças, além de exemplos de outras situações de crise extrema.
Suas orientações, enumeradas num texto, provavelmente digitado com zelo por mamãe e revisado mil vezes por ele, serviriam como uma bíblia para nós e seriam emprestadas a muitas outras pessoas.
Meu pai sabia liderar. Antes da palavra governança, que anda tão na moda, ser difundida, ele já era um craque nessa matéria.
Ontem, 22 de maio, foi o aniversário do meu amado pai, meu eterno mestre. No dia do aniversário, ele também faria uma lista, essa escrita à mão, com sua letra de garranchos, com sugestões de coisas que ele estivesse precisando, nos mínimos detalhes, que nos tornava verdadeiros maratonistas para entender sua letra e para conseguir comprar aquela bermuda sem bolsos, com elástico e cadarço na cintura, as meias de lã ou a calça de pijama de flanela.
E, quando eu telefonasse para saber se queria que levasse alguma coisa, ele me pediria, com carinho e um singelíssimo sorriso: se você puder, traga aquelas coxinhas!
Quanta saudade eu sinto. Do passado e do futuro, que infelizmente terei que enfrentar sem você me falando: “É o caos, Gisela! É inviável!”. Um beijo, pai, te amo para sempre.
Suas orientações serviriam como uma bíblia para nós