Tempo confirma a excelência
Ojazz está morto? Não no disco intitulado Jazz Is Dead 001, empreitada de Ali Shaheed Muhammad (do A Tribe Called Quest) e do produtor e DJ Adrian Younge, este bastante presente na música de L.A, autor de trilhas sonoras, e que assina com Ali, Untitled 06, de Kendrick Lamar, com Cee Lo Green.
Os dois montaram o álbum com material de um projeto, do qual veio o título do disco, surgido em 2017, em Los Angeles. A ideia foi concebida pelo produtor de shows Andrew Lojero. Uma série de apresentações de Ali e Adrian em clubes de L.A com músicos convidados, alguns entre os mais sampleados pela turma do rap e afins.
Sob o nome de Midnight Hour, a dupla apresentou-se com nomes feito o organista Roy Ayers, o saxofonista Gary Bartz, veteranos do jazz, o flautista Brian Jackson (que tocava com Gil Scott-Heron), e brasileiros que estão desde os anos 90 na mira dos samples, João Donato, Marcos Valle e o Azymuth. O projeto foi além dos palcos. A dupla leva os convidados para o estúdio, o que gerou gravações que prometem uma longa sequência de Jazz Is Dead.
Roy Ayers, aos 79 anos, é uma entidade do jazz e está à vontade com os músicos de gerações e estilos diferentes. Deve ter aprendido a lição de Miles Davis, que acompanhou o desenvolvimento da música, apreendendo o novo e redirecionando-o. Aliás, o saxofonista Gary Bartz foi músico da banda de Davis. Sua faixa, Distant Mood, tem participação do baterista Greg Paul, requisitado músico de estúdio de Los Angeles, que tem também seu próprio trio de jazz.
Quase inteiramente instrumental, Jazz Is Dead ratifica que o gênero nunca esteve tão vivo, e caprichado no groove, com influências cada vez mais amplas. O disco vai do balanço de Conexão, com João Donato, 86 anos, com seu facilmente identificável e influente estilo de tocar teclados. Também no teclado, Marcos Valle, 77, comanda o groove de Não Saia da Praça. Numa de suas músicas mais doidaças, o Azymuth toca com Ali e Adrian o tema mais longo do disco (nove minutos), com laivos de psicodelia, chamado Apocalíptico.
O Midnight Hour é assumidamente retrô e admirado do funk jazz dos anos 70. Ali e Adrian misturam sonoridades de décadas e estilos diferentes, dando-lhes contemporaneidade.