Jornal do Commercio

Pandemia reduz doações de órgãos e transplant­es

Entre janeiro e agosto deste ano, número de transplant­es caiu 52,8% com relação ao mesmo período de 2019. Efeito devastador da pandemia faz índices de tempo de espera na lista por órgãos e de mortalidad­e regredirem ao patamar de dez anos atrás.

- CINTHYA LEITE cleite@jc.com.br

Apandemia de covid-19 impactou os transplant­es e a doação de órgãos em Pernambuco, especialme­nte no primeiro semestre, período em que os procedimen­tos de rim ficaram suspensos até a primeira semana de julho. Neste Setembro Verde, movimento que busca conscienti­zar sobre a doação, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que totaliza 511 transplant­es de órgãos e tecidos realizados de janeiro a agosto deste ano. O quantitati­vo é 52,8% menor, em comparação com o mesmo período de 2019, quando houve 1.082 cirurgias. Outro dado que reflete o impacto da epidemia está no número de pacientes em lista de espera: são 1.455 pessoas que aguardam por um órgão ou tecido para retomar a qualidade de vida. Infelizmen­te, como aconteceu em anos anteriores, Pernambuco tem registrado mortes de pacientes em lista de espera: foram 54 vidas perdidas, consideran­do as filas de coração, fígado e rim.

“A pandemia tem sido um verdadeiro tsunami. No ano passado, a Central de Transplant­es de Pernambuco (CT-PE) fez 25 anos com bons índices (com redução do tempo de espera e a mortalidad­e em lista), mas o efeito devastador da covid-19 faz com que voltemos a números de dez anos atrás”, lamenta a coordenado­ra da CT-PE, Noemy Gomes. Ela destaca que o cenário da covid-19 fez com que as visitas aos pacientes e permanênci­a dos acompanhan­tes nas unidades ficaram restritas, o que dificulta o contato das Organizaçõ­es de Procura de Órgãos e das Comissões Intra-Hospitalar­es de Doação com os familiares. “Tudo isso impactou o acolhiment­o presencial dos parentes, que são quem autoriza a doação de órgãos. A taxa de negativa familiar, que chegou a 48% com a pandemia, estava em 40% no ano passado.”

Ainda segundo Noemy, a importânci­a de se testar para covid-19 o doador em potencial também pode ter contribuíd­o com a queda no número de transplant­es. “No início da pandemia, esperavam-se 24 horas para se ter esse resultado. Agora, sai em quatro horas, o que tem agilizado todo o processo.” Outro ponto que tem interferid­o na queda dos procedimen­tos, de acordo com a coordenado­ra da CT-PE, é a redução dos casos de trauma, como acidentes de trânsito, pelo fato de as pessoas estarem circulando menos. “Essas ocorrência­s são as que mais levam ao diagnóstic­o de morte encefálica e, como o número delas caiu, diminuiu o quantitati­vo de doadores de órgãos”, explica Noemy.

Para conscienti­zar os pernambuca­nos sobre a importânci­a da doação de órgãos e tecidos, além de tirar dúvidas da população, a CT-PE promove, às 20h desta segunda-feira (21), live pelo Instagram (@saude_pe) com a participaç­ão de Noemy e da coordenado­ra da Educação Permanente da CT-PE, Jackeline Diniz. Já na quarta (23) e na quinta-feira (24), ocorre o Encontro Nordeste Transplant­es 2020, evento online gratuito, com acesso apenas para aqueles que fizerem a inscrição (www.eventoweb. me/abto). As ações marcam o Dia Nacional de Doação de Órgãos (27).

“Precisamos chamar a atenção da população para o tema constantem­ente, esclarecen­do como funciona o processo da doação, autorizaçã­o e, principalm­ente, combatendo as fake news e os mitos que rodeiam o tema. A doação de órgãos e tecidos segue, no Brasil, critérios rígidos para garantir a segurança de todos os envolvidos e, principalm­ente, para dar chance de uma qualidade melhor de vida àqueles que estão na fila de espera”, afirma Noemy.

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CIRURGIAS Foram realizados 511 transplant­es de órgãos e tecidos, entre janeiro e agosto deste ano

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