Jornal do Commercio

Feras ansiosos e no limite

De olho no Enem, vestibulan­dos enfrentam mais desafios na pandemia. Cansaço e desmotivaç­ão afetam rendimento

- MARGARIDA AZEVEDO mazevedo@jc.com.br

Aquatro meses das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcadas para 17 e 24 de janeiro, vestibulan­dos que estão se preparando para a avaliação lidam com mais desafios trazidos pela pandemia de covid-19 que os demais estudantes da educação básica. A distância dos amigos e das escolas, fechadas em Pernambuco desde março, aumenta a carga de estresse, já tão alta por ser um ano decisivo para ingresso na faculdade. Com aulas remotas há seis meses, muitos jovens estão cansados do estudo virtual, não conseguem se concentrar e sentem dificuldad­e em manter o ritmo de estudos. A boa notícia é que caso o governo estadual autorize a reabertura das unidades de ensino, as primeiras turmas a voltar serão a de concluinte­s do ensino médio.

“No início das aulas online, no começo da pandemia, os alunos interagiam. Agora, estão de saco cheio. Quando dou aula, metade das câmeras está desligada. Não participam mais como antes. Muitas vezes, no meio de uma explicação, pergunto qual é a música de maior sucesso de Wesley Safadão ou qual é a capital do Acre. Só para testar e ver quem está prestando atenção”, conta o professor de matemática Marcelo Menezes. Ele também percebeu diminuição do acesso dos alunos às aulas gravadas. “As férias foram antecipada­s para abril. São muitos meses seguidos sem pausa. É natural o cansaço para qualquer aluno, ainda mais para os vestibulan­dos”, comenta Marcelo.

Fera de medicina, João Gabriel Tenório, 18 anos, confirma a percepção do professor de matemática. “Minha turma tem 30 alunos. Só quatro ou cinco, em média, participam mesmo das aulas. A maioria desliga a câmera e não acompanha as aulas. Eu procuro interagir, mas confesso que está cansativo. Sinto muita saudade das aulas presenciai­s”, afirma João. “Estou muito nervoso por causa do Enem. Faz falta estar com os amigos pois um apoia o outro. Falar pelo celular não é a mesma coisa que se encontrar todos os dias na escola”, diz o jovem, aluno do Colégio Agnes. Para destressar, ele voltou a tocar violão, instrument­o que começou a aprender ano passado.

Deivson Gustavo da Silva, 17, candidato de ciências contábeis, tem tido insônia por causa dos vestibular­es. “Todo dia penso no Enem, fico imaginando qual será o tema da redação, se eu vou saber responder as questões. Assisto às aulas pelo celular, mas o ideal seria um computador porque às vezes canso da tela pequena. Também está sendo difícil me concentrar pois moro com minha mãe, duas irmãs e duas sobrinhas. O barulho atrapalha, não tenho um espaço separado para estudar. E moro numa comunidade da periferia. Nos fins de semana, os vizinhos ligam o som alto”, relata Deivson, aluno da Escola de Referência em Ensino Médio Othon Paraíso.

Psicóloga do ensino médio do Colégio Fazer Crescer, Leandra Gueiros sugere que as famílias fiquem mais atentas para acolher as dificuldad­es dos vestibulan­dos neste momento. “Percebo muitos pais preocupado­s sem saber como ajudar o filho pois sabem que eles estão no limite. Devo cobrar e mandar estudar? Ou é melhor não exigir tanto? São dúvidas que chegam até nós. Digo a eles que o momento é de acolher, conversar mais, interagir mais com o adolescent­e. Assistir a um filme ou cozinharem juntos, por exemplo. Achar uma forma para tornar esse processo de preparação para o Enem menos pesado”, recomenda Leandra.

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DEDICAÇÃO Deivson sente falta de um computador e de um local adequado para estudar. Movimento na casa atrapalha concentraç­ão
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ESFORÇO Para descansar das aulas remotas, João Gabriel voltou a tocar violão. Ele tem muita saudade dos amigos e da escola

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