Setores alegam muito esforço para um resultado inócuo
O escalonamento de horários de serviços e atividades econômicas para reduzir as aglomerações no transporte foi relançado à sociedade em uníssono pelos operadores e gestores do transporte público coletivo brasileiro. Pulverizar a concentração dos horários de pico do sistema, que representa o acúmulo, em média, nacionalmente, de duas horas pela manhã e duas horas à tarde, de metade dos passageiros transportados durante todo o dia e noite. Esticar esse pico, fazendo as pessoas entrarem e saírem do trabalho em horas diferentes. Essa é a proposta. Na verdade, um pedido de socorro. E para toda a sociedade. Uma tentativa de explicar que o transporte coletivo no Brasil, da forma como é financiado - em quase sua totalidade apenas pela passagem - não vai aguentar se algo não for feito e que, o que é pior, entrará numa roda viva de perda de demanda pela falta de qualidade e falta de qualidade porque não tem demanda. Todos pagarão por isso. Usuários ou não. As cidades pagarão se houver uma fuga da população para o automóvel, por exemplo.
Mas o apelo não parece estar sendo ouvido. No País e em Pernambuco. É grande a reação contra a proposta do escalonamento. Nem mesmo a pandemia parece ter conseguido sensibilizar a sociedade civil - empresários e empregadores em geral - de que o momento exige mudanças de hábitos e cotas de esforços de todos. Os setores econômicos entendem que o escalonamento é inócuo. Que os benefícios serão muito pequenos, que já há horários diferentes de entrada e saída de muitas atividades e que o problema do transporte é estrutural, devendo ser enfrentado pelo poder público. Argumentam que a sociedade pode ajudar, dando os caminhos e até indicando as fontes de recursos - mas o desafio é do Estado. Devolvem ao poder público a responsabilidade de melhorar o serviço, como historicamente sempre foi.
A proposta do escalonamento foi lançada na RMR pela Urbana-PE - o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros. O objetivo é desafogar o sistema nos horários de pico para reduzir aglomerações. Segundo a Urbana-PE, a concentração nos picos (5h às 8h e 16h às 19h) era 46% antes da pandemia, chegou a 50% com apenas serviços essenciais em atividade e atualmente está em 47,5%. Mesmo reduzindo, a concentração segue sendo um problema do transporte coletivo urbano.