Muito abaixo da tradição
A importância histórica de Pernambuco para o Brasil é inegável. O passado é repleto de exemplos de vanguarda política, cultural e econômica que não se resumiram ao âmbito regional, obtendo o reconhecimento do País inteiro. Em diversos setores, a posição pernambucana ainda é respeitada, no encontro perfeito da tradição com a inovação. Mas há um ranço que atrapalha. Um ruído de fundo quebrando a harmonia. Uma força antagônica a segurar os passos dos pernambucanos em direção ao futuro, se concebermos o futuro como um lugar melhor para todos, em que a qualidade de vida seja desfrutada com justiça social a partir dos frutos colhidos do desenvolvimento.
Em 17º lugar no Ranking da Competitividade dos Estados no Brasil, e apenas em 4º na região Nordeste, ficando atrás do Ceará, que aparece em 10º, da Paraíba, em 13º, e de Alagoas, em 15º, Pernambuco exibe deficiências estruturais e conjunturais que prejudicam o crescimento econômico e impedem o aproveitamento dos potenciais individuais e coletivos da população. Elaborado anualmente pelo
Centro de Liderança Pública (CLP) em parceria com a B3, a Tendências Consultoria e a Economist Intelligence Unit, o ranking é uma oportunidade para se revisitar e encarar os problemas que continuam – e por continuar, se tornam mais difíceis de solucionar, exigindo mais energia, mais recursos, deixando mais prejuízos e atrasos pelo caminho.
A queda em dois pilares fundamentais fez com que o desempenho estadual ficasse aquém do satisfatório: sustentabilidade social e infraestrutura. Houve melhora em outros fatores – potencial de mercado, solidez fiscal, educação, capital humano e inovação. Mas mesmo nesses, é difícil apontar condições de adequação aos desafios de um estado empobrecido, que vem perdendo importância relativa na região nordestina. Também é difícil celebrar a 19ª posição nacional em solidez fiscal – já que a evolução diz que estávamos ainda piores. Em segurança pública, outro eixo analisado, Pernambuco se encontra no final do ranking, na 24ª posição, menos ruim apenas que a Bahia, Sergipe e Roraima. A falta de segurança é um dado alarmante de consequências negativas duradouras, desestimulando a atividade econômica, afugentando investimentos e enclausurando as pessoas no temor ao risco de sair de suas casas.
Parte da explicação para a boa colocação do Ceará é a adoção de políticas públicas baseadas em evidências. Ou seja: governar fora do improviso, aplicando os recursos de maneira eficiente, evitando desperdícios e desvios, e aproveitando da melhor maneira os casos de sucesso em outros lugares, com as adaptações necessárias à realidade local. Os cearenses figuram como exceção num ranking em que os estados ricos ocupam as primeiras posições, e os pobres, do Norte e Nordeste, a parte de baixo da lista. A infraestrutura precária agrava o panorama, especialmente em Pernambuco, cuja tradição de destaque vai ficando para trás, e o futuro promissor, cada vez mais distante.