Pensar global e agir local
EO que a visão sociológica de Beck tem a ver com eleições municipais? Tudo. O que estará em jogo – o poder local – é um espaço estratégico para operar mudanças fundamentais para o futuro, debaixo para cima na política e de dentro para fora na consciência das pessoas.
Abordado numa entrevista por conta de minha experiência pessoal como ex-prefeito e vereador do Recife, o jornalista perguntou que conselhos daria ao próximo Prefeito/a; resisti responder, ponderando que soaria pretensioso e precário, afinal, faz quarenta anos.
Diante de delicada insistência, respondi: tirar a bunda da cadeira; calçar a bota sete léguas; usar ouvidos para escutar milhares de vozes; colocar os olhos além dos horizontes temporais. Percepção essencial: o poder municipal é o mais humanizado dos poderes da República.
As carências têm cara de gente. Andam, falam, respiram, têm corpo e alma. E batem na porta das autoridades municipais sem a cerimônia dos cargos e a frieza dos números. No Município, o mundo é nossa casa, a família, a rua, o bairro. Depois vem a Cidade, a Nação, o Estado, o Mundo.
O tempo é agora. Depois, é tarde. O Prefeito/a, como o deus Jano, tem duas faces: a do/a gestor/a visionário/a que enxerga a cidade competitiva, eficiente, cosmopolita; o espaço acolhedor do encontro, da diversidade, do trabalho, do lazer; o espaço público, cívico, cidadão; o abrigo dos ancestrais e o sonho do bem viver.
A outra face, a do/a gestor/a sensível que cuida da cidade como quem cuida da casa, lugar limpo, de convivência fraterna porque o “governo de proximidade” é possível. E os recursos? Sempre escassos. Mas a gestão pública ensina, sem as unhas dos larápios, não são os recursos que determinam prioridades; mas são decisões políticas que geram o meios para a boa governança.