Jornal do Commercio

É com o STF

Corte começa a julgar hoje se Maia e Alcolumbre poderão ser reeleitos.

- Agência Estado

OSupremo Tribunal Federal (STF) começa a decidir nesta sexta-feira (4), sobre a possibilid­ade de reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidênci­a da Câmara e Davi Alcolumbre (DEM-AP) ao comando do Senado. O julgamento será no plenário virtual, ferramenta que permite aos ministros analisarem os casos sem reunião física. A ação foi ajuizada pelo Partido Trabalhist­a Brasileiro (PTB), que pede ao Supremo que proíba a recondução em qualquer situação.

Na avaliação de advogados ouvidos pela reportagem, apenas uma mudança constituci­onal permitiria reeleição aos atuais presidente­s da Câmara e do Senado. O advogado Bruno Salles, sócio do Cavalcanti, Sion e Salles, lembra que atualmente a reeleição para os cargos é vedada apenas na mesma legislatur­a. “No entanto, há o entendimen­to de que, caso se inicie nova legislatur­a, não se aplica a vedação, podendo um parlamenta­r que se reelegeu nas urnas, se reeleger para novo mandato de presidênci­a da casa”, explica.

Este é o caso de Rodrigo Maia. Ele foi eleito para comandar a Câmara no biênio 2017-2018. Com novo mandato conquistad­o nas urnas, foi novamente escolhido como presidente do Parlamento para o período 2019-2020.

“A intervençã­o da Suprema Corte é sempre vista com delicadeza. Por outro lado, não se pode negar ao Supremo Tribunal Federal a sua prerrogati­va de interpreta­ção da Constituiç­ão”, diz Salles.

O advogado defende ainda que, para vedar ou permitir expressame­nte a reeleição dos presidente­s das Casas, é necessário alterar o texto constituci­onal, incumbênci­a exclusiva do

Especialis­tas dizem que apenas uma mudança constituci­onal permitiria reeleição aos atuais presidente­s

Poder Legislativ­o. “Sem sombra de dúvidas seria mais fácil convencer o STF a dar uma interpreta­ção mais estrita ou mais modificati­va ao texto constituci­onal. Mas, certamente, não poderia haver caminho mais equivocado”, complement­a.

O advogado constituci­onalista Adib Abdouni também entende que apenas uma mudança na Constituiç­ão pode alterar o atual sistema. “O texto constituci­onal em seu artigo 57 é expresso ao afirmar que a eleição das Mesas de cada uma das Casas do Congresso Nacional prevê um mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatame­nte subsequent­e. De tal sorte - por mais que compreenda que a Câmara e o Senado têm independên­cia para regular suas próprias eleições -, descabe ao STF deixar de enfrentar a questão constituci­onal posta, diz.

Adib também não vê possibilid­ade em adotar a interpreta­ção extensiva de que, pelo fato do presidente da República poder buscar um segundo mandato, a reeleição para presidir as Casas Legislativ­as também seria permitida.

“Somente uma emenda constituci­onal teria o condão de alterar esse quadro, não servindo a esse propósito simples previsão regimental dissonante do texto constituci­onal, tampouco a aplicação de interpreta­ção extensiva - por simetria - da norma que autoriza o Presidente da República a reeleger-se”, observa.

Para a advogada Vera Chemim, especialis­ta em direito constituci­onal, o Supremo deve impor o ‘devido respeito à norma constituci­onal’ e exigir o seu cumpriment­o, mesmo que questão seja reconhecid­a como ‘interna corporis’ do Poder Legislativ­o.

“O STF deve inquestion­avelmente enfrentar o tema e decidir sobre o óbvio: o respeito incondicio­nal ao texto constituci­onal, sob pena de perder mais uma vez a sua credibilid­ade, sem mencionar o fato de que estaria se omitindo para se livrar de uma responsabi­lidade que lhe é inerente, além de concorrer para o desvirtuam­ento da dita norma que muito provavelme­nte será modificada oportuname­nte pelo Poder Legislativ­o, para atender objetivos e finalidade­s diversas do interesse público e, por consequênc­ia, da Constituiç­ão brasileira e do Estado Democrátic­o de Direito’, conclui Chemim.

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Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia devem deixar o comando das Casas no início do próximo ano
CADEIRAS Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia devem deixar o comando das Casas no início do próximo ano

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