Choro de quem perdeu familiares
Em depoimento à CPI da Covid, familiares de vítimas relataram ontem a tristeza com a perda de parentes e as dificuldades de atendimento durante a pandemia no país. Eles criticaram a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação às vítimas e as políticas adotadas pelo governo.
Emocionado, o taxista Márcio Antônio Silva, que perdeu o filho Hugo Dutra do Nascimento Silva, aos 25 anos, vítima da covid-19, contou que o último momento que esteve com o filho ele estava “dentro de um saco” e teve que ter coragem para fazer o reconhecimento do corpo.
Em abril de 2020, na praia de Copacabana, Silva recolocou as cruzes que lembravam as vítimas da doença. Ele se surpreendeu quando viu um homem derrubando, aos berros, cruzes colocadas na areia pela ONG Rio de Paz em protesto pelas mortes na pandemia.
“Nós merecíamos um pedido de desculpas da maior autoridade do país. Eu não é questão política, nós estamos falando de vida”, disse Silva. “A nossa dor não é mimimi, nós não somos palhaços”, afirmou.
Márcio questionou também o posicionamento do presidente contra máscara e a vacina. “O sentimento que eu fico não é só pela dor da morte: é por tudo que veio depois, por cada deboche, cada sorriso, cada ironia”, afirmou.
Katia Castilho dos Santos se emocionou e chorou em seu depoimento. Ela relatou que perdeu o pai e a mãe, e expôs o descaso sofrido por sua família. A mãe era associada da Prevent Senior que, inicialmente, enviou em março deste ano o ‘kit covid’ - remédios sem eficácia comprovada para o tratamento. A mãe teve dificuldade em conseguir uma vaga para ser internada e chegou a ser medicada com flutamida, medicamento que pode causar hepatite fulminante. O pai faleceu no dia em que ocorreram 4 mil mortes em São Paulo, e a irmã teve que ajudar a localizar e até carregar o corpo.
“Quando vemos um presidente da República imitando uma pessoa com falta de ar, isso para nós é muito doloroso. Se ele tivesse ideia do mal que ele faz para a nação, além de todo o mal que já fez, ele não faria isso”, disse, após conclamar as pessoas a se vacinarem.
Já a jovem Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, ficou órfã e também vai passar a ter a guarda da irmã de 11 anos. Ela perdeu a mãe, que era transplantada e fazia hemodiálise, e o pai, que sofria de câncer. “Hoje a gente tem mais de 600 mil vítimas, não é? Mais de 120 mil órfãos. Então, o governo tem responsabilidade por essas vidas”, disse a jovem.