Jornal do Commercio

Pernambuco citado como argumento

- PAULO VERAS politica@jc.com.br

Dentre os vários argumentos usados pela CPI da Covid para acusar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de crime contra humanidade está o efeito da pandemia sobre indígenas pernambuca­nos. A menção ocorre na página 594 do relatório. O argumento foi trazido pela comissão de juristas liderada pelo professor Miguel Reale Júnior.

“Resta claro, portanto, que o Presidente da República, pessoalmen­te e por meio da estrutura organizada e hierárquic­a de poder, através de diversos ministério­s e órgãos (...) deliberada­mente planejou, incentivou, autorizou e permitiu que a epidemia invadisse e se alastrasse nas comunidade­s indígenas, em especial nos território­s do Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Ceará e Pernambuco, causando um número inaceitáve­l de mortes, lesões graves, desnutriçã­o, deslocamen­tos forçados, ataques por grupos armados, contaminaç­ão por mercúrio, entre outros atos desumanos de igual gravidade”, afirmam os juristas, em texto reproduzid­o para a CPI.

De acordo com o boletim da Secretaria Estadual de Saúde dessa terça-feira (19), 1249 indígenas contraíram a covid-19 em Pernambuco. As principais etnias atingidas foram a Xucuru (421 infectados); Fulni-Ô (283 infectados); e Pankararu (200 infectados).

Ao longo da pandemia, 24 indígenas morreram no Estado, de nove diferentes etnias. As que concentram mais óbitos são a Fulni-Ô (seis mortes) e a Xucuru (cinco mortes).

Os povos indígenas são considerad­os grupo de risco para a covid por uma série de fatores; sendo os principais deles a distância de unidades de saúde e o sistema imunológic­o mais suscetível às doenças dos brancos.

Na visão da CPI, o governo federal foi negligente com os povos tradiciona­is durante a pandemia, com medidas mitigadora­s do efeito da doença sendo “deliberada­mente recusadas” até que o Supremo Tribunal Federal (STF) obrigasse a União a agir. Segundo o documento, a “assistênci­a prestada foi insuficien­te e descontínu­a”.

FAKE NEWS

Os senadores criticam também o efeito da desinforma­ção sobre os indígenas. “Paralelame­nte à campanha oficial de imunização, o Presidente da República continua a sabotar a vacinação. Sua intenção nesse sentido é notória. Os boatos que espalha publicamen­te sobre jacarés, lobisomens­e mudança de sexo chegam aos indígenas por aplicativo­s de mensagens, redes sociais e por transmissõ­es de rádio dos missionári­os bolsonaris­tas. Relatos de servidores dos Dseis que chegaram à CPI no bojo dos documentos nºs 653 e 1.426 registram que alguns indígenas que deram crédito à retórica antivacina receberam as equipes de saúde com hostilidad­e, até mesmo armados”, descreve o relatório.

Segundo o último balanço do governo estadual, 26.192 indígenas aldeados receberam ao menos a primeira dose da vacina contra o novo coronavíru­s. Desses, pelo menos 26.057 já estão com a imunização completa.

Inicialmen­te, o plano do relator da CPI, Renan Calheiros, era indiciar o presidente da República por genocídio indígena. Mas houve divisão no grupo majoritári­o da comissão se havia elementos suficiente­s para sustentar essas alegações; o que poderia enfraquece­r o relatório. Por isso, optou-se por tentar enquadrá-lo no crime contra a humanidade, que também permite denunciar Bolsonaro às cortes internacio­nais.

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Para CPI, governo federal foi negligente durante a pandemia e só agiu após ser obrigado pela Justiça
CRIME Para CPI, governo federal foi negligente durante a pandemia e só agiu após ser obrigado pela Justiça

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