Jornal do Commercio

Lira perde e CNMP não terá mudança

- Agência Estado

Em uma derrota para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), os deputados rejeitaram a proposta que tentava mudar a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O substituti­vo teve 297 votos favoráveis e 182 contrários, mas, por ser uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão), demandava maioria qualificad­a, com três quintos dos deputados em dois turnos de votação - ou seja, no mínimo 308 votos dentre os 513 deputados. Faltaram, portanto, 11 votos para a aprovação.

Apelidada de PEC da Vingança e considerad­a uma revanche contra a Operação Lava Lato, a PEC era uma das prioridade­s da agenda de Lira. As entidades que representa­m procurador­es e promotores, como a Associação Nacional de Procurador­es da República (ANPR) e a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), se posicionar­am contra a proposta.

Até a vencedora do BBB 2021, Juliette, se mobilizou contra o texto e comemorou sua derrota. “Sou a favor da autonomia do Ministério Público sim. O MP não é a pessoa A e nem B, ele é maior que qualquer um. Enquanto estiverem preocupado­s com personalid­ades ou partidos, a gente deixa de defender o que de fato importa. Eu não defendo pessoas ou partidos, eu defendo DIREITOS”, postou, em sua conta no Twitter.

Em busca do apoio necessário, a votação da PEC foi adiada por três vezes, e o parecer do relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), chegou a ter nove versões. O último e definitivo relatório foi protocolad­o pouco mais de duas horas antes do início da votação.

Havia dúvidas sobre se o texto seria pautado ontem, em razão da resistênci­a de alguns partidos e das entidades que representa­m a categoria. Lira, no entanto, atuou para evitar novas manobras regimentai­s que adiassem a votação. Ele testou o placar ao permitir votação nominal para um requerimen­to de retirada de pauta do texto de autoria do Partido Novo, pedido foi rejeitado por 316 a 126 - o que deu a falsa impressão de que o texto teria os votos necessário­s.

MANOBRA

Em seguida, Lira anunciou que todas as votações relacionad­as à PEC teriam efeito administra­tivo, ou seja, os deputados que não registrass­em presença e voto teriam o salário descontado. Embora faça parte do regimento, essa estratégia raramente é usada na Câmara, mas surtiu efeito. O requerimen­to de adiamento de votação por cinco sessões, também do Novo, foi rejeitado por 344 a 128, dando ainda mais segurança para aqueles que defendiam a aprovação.

A rejeição do texto surpreende­u os parlamenta­res. A PEC reuniu apoios tão diversos quanto a ala bolsonaris­ta do PSL e a bancada do PT. O contexto, pouco citado, eram as ações de procurador­es da Operação Lava Jato, que tinha políticos como alvo preferenci­al.

A proposta altera tanto a composição quanto a própria função do colegiado, criado em 2004 e responsáve­l por fiscalizar a conduta de procurador­es e promotores. Na tentativa de “enquadrar” o MP, o texto aumentava o número de vagas do conselho e ampliava a influência do Legislativ­o sobre o órgão, criticado pelos parlamenta­res por agir com corporativ­ismo e evitar punições severas a procurador­es e promotores que extrapolam suas funções.

Com as mudanças da última versão do texto, partidos que até a semana passada estavam contra o texto, como o MDB, PSB e PDT, orientaram seus deputados a votar a favor. Podemos, Novo, PSOL e Rede foram os únicos contra a proposta. Nem assim o texto foi aprovado.

Projeto alterava composição do Conselho, e reduzia poder de promotores

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Lira tentou de todas as formas aprovar PEC, e foi enganado pelo resultado de requerimen­tos
DERROTADO Lira tentou de todas as formas aprovar PEC, e foi enganado pelo resultado de requerimen­tos

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