Jornal do Commercio

Trilhos da omissão

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Aqueda de um muro sem manutenção quase mata uma criança, há poucos dias. O fato vem se juntar às evidências do sucateamen­to observado há vários anos, e faz do Metrô do Recife o melhor modal para o transporte público em Pernambuco, com a pior gestão do País. Sem os investimen­tos que deveria ter recebido para se expandir e se modernizar, o Metrô que atende à capital e cidades vizinhas é alvo diário de justas queixas. Os usuários do sistema sofrem com o desconfort­o, a inseguranç­a, os atrasos, as quebras e os riscos inerentes a uma promessa caindo aos pedaços. A mobilidade sai dos trilhos, no transporte metroferro­viário abandonado, como o JC destacou em matéria na edição de ontem, de autoria de Roberta Soares.

O vácuo na gestão se reflete tanto na estrutura que serve ao público, quanto no entorno, nos limites territoria­is de estações e linhas férreas. “No caminho para virar concessão pública, o Metrô do Recife não consegue mais cuidar do seu sistema. Nem para dentro, muito menos para fora”, escreve a colunista de mobilidade do JC. A situação é tão precária que, três dias após a queda do muro, na comunidade do Coque, os escombros estavam do mesmo jeito, sem sinais de proteção nem de reparos, à espera da perícia técnica. A abertura destaca a construção deteriorad­a pelo tempo e pela absoluta ausência de manutenção denunciada pelas ferragens expostas.

As linhas em operação não dispõem de trens suficiente­s para a demanda de passageiro­s, as peças de reposição demoram a chegar, deixando composiçõe­s paradas, os furtos de cabos e de outros elementos estruturai­s ao longo dos trilhos se tornou comum, bem como o desespero de quem anda de metrô por necessidad­e e falta de opção melhor. Os protocolos emergencia­is que ficaram de ser definidos pela CBTU para o muro desabado, poderiam ser cogitados para a própria administra­ção do Metrô. A condição emergencia­l não é nova para o sistema metroferro­viário. O acúmulo de problemas realça o descaso que também envolve o governo do Estado – pois é de cidadãos pernambuca­nos que se fala quando se apontam as vítimas desse descaso.

Se há mais de cinco anos o sistema funciona com metade dos recursos de que precisa, a queda do muro, assim como o sucateamen­to conhecido pela população, não chegam a ser surpresas. O surpreende­nte é a inação do poder público estadual diante do descalabro que aflige milhares de pessoas todos os dias. Como se não tivesse nada a ver com o transporte das pessoas – ou com o sofrimento delas. O aporte do governo federal é insuficien­te, sim, mas não é de hoje. O que o governo de Pernambuco e os deputados estaduais e federais fizeram para, ao menos, reduzir os problemas nos últimos sete anos?

Enxergar a questão apenas politicame­nte, atribuir a responsabi­lidade ao governo federal e esquecer que existem passageiro­s desassisti­dos, cidadãos entregues ao infortúnio, é participar igualmente da omissão que trouxe o Metrô do Recife ao abismo em que se encontra agora.

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