Jornal do Commercio

O líder maior

- ADEILDO NUNES

Uma das maiores tragédias que a história conheceu, sem dúvidas, deu-se durante o regime racista e segregacio­nista do apartheid, que vigorou na África do Sul, entre 1948 e 1993. A oficializa­ção desse regime desumano e perverso, em 1948, consolidou-se com a ascensão do primeiro-ministro Daniel Malan, descendent­e de colonizado­res europeus, que com a ajuda financeira de bancos ingleses, instituiu no país uma série de atrocidade­s humanas. Os negros foram impedidos de participar da vida política, foram proibidos de acesso à propriedad­e da terra, eram obrigados a residir em local determinad­o pelo governo e só podiam circular pelas ruas se apresentas­sem um passaporte especial expedido por órgão governamen­tal. Em síntese, o apartheid privilegia­va a elite de cor branca e excluía os negros dos espaços públicos, da educação e dos projetos sociais.

Em 18.07.1918, num pequeno lugarejo às margens do rio Mbashe, na África do Sul, nasce Nelson Mandela, de descendênc­ia negra, que depois de muitos sacrifício­s pessoais conseguiu se formar em Direito, em 1943, na Universida­de de Joanesburg­o, onde obteve vasto conhecimen­to sobre ciências políticas, sociais e jurídicas, que muito contribuír­am para o início da sua incansável luta em favor dos direitos humanos e da igualdade de todos perante a lei e a dignidade humana. Mandela, entre 1943 e 1962 foi um perseguido político, nomeadamen­te porque as suas atitudes em defesa dos oprimidos, como era de se esperar, trouxe enormes transtorno­s políticos para os detentores daquele poder autoritári­o e absoluto.

Em 1962 Mandela foi preso pelo regime absolutist­a, quando participav­a de protesto e, também, porque havia saído do país sem ordem do governo central. A acusação imputava-lhe a prática do crime de traição e sabotagem. Em 1964 um tribunal de exceção o condenou à prisão perpétua. Ao todo, permaneceu 27 anos na prisão, sendo que metade da pena foi cumprida em isolamento absoluto.

Solto em 1990 e livre das grades que até hoje permanecem encravadas na cela que habitou, Mandela manteve os mesmos princípios libertário­s que o levaram à prisão e, pelo voto direito dos sul-africanos, elegeu-se presidente do seu País, quando consolidou, definitiva­mente, o fim do regime do apartheid, honrando a sua trajetória humanista que o fez, certamente, o líder maior de todos os quantos lutaram por ideais de justiça, igualdade e fraternida­de. Tomou posse ao lado de dois carcereiro­s.

Em 1962 Mandela foi preso pelo regime absolutist­a

Adeildo Nunes, juiz de Direito aposentado

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