Chiziane é a 1ª africana a ganhar o Camões
Aescritora moçambicana Paulina Chiziane, de 66 anos, venceu o 33º Prêmio Luís de Camões. O anúncio foi feito ontem. Suas obras se destacam pelo protagonismo feminino
e o seu livro mais conhecido é Niketche:
Uma História de Poligamia.
A autora foi escolhida por uma comissão julgadora composta por seis membros (sendo dois de Portugal, dois do Brasil e dois representantes do Palops, países africanos de língua oficial portuguesa). Os jurados brasileiros presentes na comissão foram Jorge Alves de Lima e Raul Cesar Gouveia Fernandes.
“A mulher tem uma alma grande e tem uma grande mensagem para dar ao mundo. Este prêmio serve para despertar as mulheres e fazê-las sentir o poder que têm por dentro”, disse ela à agência de notícias portuguesa Lusa, após o anúncio.
Paulina Chiziane nasceu no subúrbio de Maputo, capital de Moçambique. Formada pela Universidade Eduardo Mondlane, começou a publicar contos na imprensa moçambicana. Também foi a primeira mulher a publicar um romance no país, em 1990: Balada de Amor ao Vento. “Quando eu comecei a escrever, ninguém acreditava naquilo que eu fazia. Porque eram escritos de mulher”, recordou ela à Lusa. “E eu sempre achei que o meu português não merecia tão alto patamar. Estou emocionada”, acrescentou.
No Brasil, os leitores já têm acesso a duas de suas obras: Niketche, pela Companhia das Letras, e O Alegre Canto da Perdiz, lançado pela editora Dublinense. se torna a primeira mulher africana a vencer a premiação, em seus mais de 30 anos de existência, e é a primeira moçambicana a levar a condecoração desde 2013. O último representante do País a vencer foi Mia Couto. O continente africano tem apenas metade do número de prêmios já conquistados por escritores do Brasil e de Portugal. Agora, Moçambique possui três prêmios, enquanto Angola e Cabo Verde, dois, cada.
O anúncio do Prêmio Luís de Camões para Paulina Chiziane chega duas semanas após o Nobel de Literatura ter ido para o tanzaniano Abdulrazak Gurnah. O prêmio máximo foi concedido a ele por sua abordagem dos “efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre as culturas e os continentes”, segundo o júri. Nascido na Tanzânia, que tem como língua o suaíli, Gurnah se refugiou no Reino Unido, por causa de perseguição política em seu país, e toda a sua literatura é feita em inglês. Diferentemente de Chiziane, Gurnah é inédito no Brasil — vácuo que será quebrado pela Companhia das Letras, que lançará, a princípio, quatro dos seus dez romances.
BRASILEIROS
Segundo país lusófono com mais premiados — sendo 13 autores, um número a menos que Portugal —, o Brasil teve o pernambucano João Cabral de Melo Neto como seu primeiro agraciado pelo Prêmio Luís de Camões, em 1990. Foram reconhecidos em seguida: Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Antônio Cândido, Autran Dourado, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, Dalton Trevisan, Alberto da Costa e Silva, Raduan Nassar e Chico Buarque, o último, em 2019.