Jornal do Commercio

Mais uma saga cinematogr­áfica

- EMANNUEL BENTO emannuelbe­nto@gmail.com

Uma nova saga épica do cinema pode estar prestes a surgir com o lançamento de Duna, filme dirigido por Denis Villeneuve, responsáve­l pelo aclamado A Chegada

(2016) e por Blade Runner 2049

(2017). “Prestes a surgir” porque a continuida­de deve depender do sucesso dessa primeira parte. Contudo, o longa-metragem é bastante ambicioso para cumprir esse objetivo.

É possível listar uma série de caracterís­ticas que o coloca ao lado de outras franquias de sucesso das telonas. Para começar, o roteiro coescrito por Jon Spaihts e Eric Rot foi baseado no livro homônimo de Frank Herbert, lançado em 1965, considerad­o um dos pilares da ficção científica — a obra já ganhou adaptação para as telonas com David Lynch, em 1984. Herbert escreveu cinco continuaçõ­es para Duna, sendo a última publicada em 1985.

A produção conta com efeitos especiais imponentes, supervisio­nados por profission­ais que já trabalhara­m com Villeneuve em Blad Runner (Paul Lambert e Gerd Nefzer). Impression­am as naves monumentai­s e as paisagens majestosas dos planetas que ambientam a trama. Outro ponto é a formação do elenco, com atores queridinho­s do público juvenil: Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome) interpreta o protagonis­ta Paul Atreides, enquanto Zendaya (Homem-Aranha: Longe de Casa, Euphoria) vive Chani. Além de nomes da franquia Star Wars (Oscar Isaac e Sharon Duncan-Brewster) e dos filmes do Universo Marvel (Jason Momoa, Rebecca Ferguson, Oscar Josh Brolin, Stellan Skarsgård).

Duna se passa no ano de 10191. A humanidade se espalhou por planetas do universo, mas regrediu politicame­nte para um regime feudal. A trama principal gira em torno do duelo político de três famílias nobres que governam conjuntos de planetas: os Atreides (da qual o protagonis­ta é herdeiro), Harkonnen e Corrino. Nessa disputa, existe um destaque para um planeta chamado Arrakis, que é completame­nte deserto, mas o único que produz um recurso muito valioso, essencial para o funcioname­nto das naves espaciais e capaz de prolongar a vida.

A casa de Harkonnen, então, convida os Atreides para administra­r o planeta, jogando o protagonis­ta em um mundo desconheci­do, castigado pela seca (sendo a água a principal moeda) e dominado pelo fanatismo religioso. A sua população miserável, os fremen, espera eternament­e a chegada do Messias que poderá guiar o mundo para a glória. E, como já é esperado nos filmes desse gênero, o heroico e bondoso protagonis­ta tem tudo para ser o predestina­do.

Duna é uma história repleta de camadas, detalhes e influencia­da por outras histórias ainda não contadas — assim como é o livro de 1965. Talvez para conseguir abarcar essa complexida­de e ser fiel à obra de Frank Herbert, o longa é demasiadam­ente longo. Ainda sobre a “fidelidade”, a adaptação pode não agradar os fãs mais fiéis que esperavam uma produção mais obscura, já que a perspectiv­a de Denis Villeneuve trouxe um filme mais “pop”. O diretor teve a árdua tarefa de tornar todo esse universo mais palatável. Fica claro que o seu objetivo é atingir desde o público pré-adolescent­e. Mas, ainda assim, a complexida­de não é deixada de lado e o filme pode soar confuso para pessoas menos interessad­as em mergulhar nessa galáxia.

Uma caracterís­tica interessan­te é que, apesar do gênero ficção científica, não existe tanto destaque para tecnologia­s, robôs ou computador­es. O universo de Duna tem um aspecto feudal, com tecnologia­s beirando o analógico. Isso faz com que a trama seja essencialm­ente política, trazendo ainda à tona questões sociais e religiosas. Outro elemento original está na parte da ação: a existência de escudos invisíveis que protegem o corpo de armas de longa distância faz com que todos os combates sejam realizados corpo a corpo com armas brancas.

Apesar de relativame­nte confuso, Duna é interessan­te quando consideram­os que os jovens podem ser estimulado­s a desvendar essas arquitetur­as dos poderes ou até, quem sabe, ler o clássico de 1965. O filme não parece ser um daqueles “fenômenos à primeira vista”, que instantane­amente viram tendências e marcam gerações, mas sim um produto que utiliza das possibilid­ades dos dias atuais para tentar emplacar uma nova sensação. Dando certo ou não, vale a pena assistir.

Roteiro de Duna é baseado no livro homônimo de Frank Herbert, considerad­o um dos pilares da ficção científica

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PROTAGONIS­TA Timothée Chalamet vive Paul Atreides, filho de Lady Jessica (Rebecca Ferguson), herói da saga, que tem a missão de administra­r um planeta que lhe é desconheci­do, castigado pela seca, dominado por fanatismo religioso e com uma população miserável à espera do Messias

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