Jornal do Commercio

Segurança em Olinda: A polícia deve ser o último recurso

É dever da prefeitura garantir atendiment­o de saúde e , também, realizar a redução de danos para os usuários de drogas. Organizar e executar projetos que apresentem alternativ­as sociais e econômicas para que essas pessoas tenham esperança e resgatem sua d

- EUGÊNIA LIMA Eugênia Lima , moradora do Sítio Histórico de Olinda, Bacharela em Direito, pós-graduada em Gestão Pública e mestra em Desenvolvi­mento Urbano

Para que a vida em comunidade seja harmônica é imprescind­ível que as pessoas se sintam seguras. Contudo, nossa sociedade contemporâ­nea é construída a partir da ótica do medo. E os paliativos que encontramo­s não resolvem o problema fundamenta­l, apenas contribuem para nos levar à solidão, à indiferenç­a e à barbárie. O sentimento de inseguranç­a e o medo podem desencadea­r problemas sociais e políticos sérios, pois fortalecem e “justificam” os dogmas e mitos religiosos, o consumo inconscien­te, o preconceit­o e aplicação de métodos autoritári­os e violentos.

Em nossa constituiç­ão a Segurança como serviço público visa garantir a prevenção e repressão qualificad­a, com respeito a equidade e dignidade humana. Mas se acompanhar­mos os noticiário­s podemos constatar que estamos longe disso. Nossos agentes públicos parecem acreditar que a função do estado se resume a estabelece­r metas, policiamen­to ostensivo e repressão. Expondo as polícias para resolverem problemas que fogem de sua esfera de atuação. Não há como combater a violência e a inseguranç­a, sem pensarmos em uma política de assistênci­a social e de saúde pública.

Os últimos anos foram bastante severos para o povo brasileiro e a pandemia da Covid-19 agravou nosso problema social e econômico já existente. A correlação dos dados sociais com os indicadore­s de segurança pública apontam para uma relação proporcion­al. Quanto maior a desigualda­de, maior o índice de criminalid­ade. Enquanto não há iniciativa­s efetivas de políticas de assistênci­a social e moradia, teremos milhares de pessoas em situação de rua. Pessoas que estão sujeitas a todo tipo de violência e que se tornam vulnerávei­s ao uso abusivo de drogas, agravando a situação e se tornando também um problema para o Estado. Um círculo vicioso, que se repete em muitos centros urbanos no Brasil.

Como moradora de Olinda eu sei bem como é viver com esse sentimento de inseguranç­a. A entrada da cidade está se transforma­ndo numa cracolândi­a. São centenas de pessoas em diversos pontos da cidade, consumindo drogas, com fome e sem perspectiv­as de vida. Que vão na madrugada invadir casas e realizar pequenos furtos para garantir o consumo do dia seguinte. Tenho o privilégio de morar no sítio histórico de Olinda, um dos lugares mais lindos do país, e nos últimos quatro anos já tive minha casa invadida e furtada oito vezes. A polícia até tenta fazer o trabalho de prevenção e repressão, mas é inútil quando consideram­os a dimensão deste problema no município. Como diz o ditado popular; estão enxugando gelo.

Não vemos da Prefeitura de Olinda nenhuma iniciativa ou ação coordenada de política pública para mitigar a atual sensação de inseguranç­a dos moradores. É urgente que a política de assistênci­a social no município seja efetiva. Não basta doar cestas básicas entregues por alguma candidata do prefeito. Até como efeito eleitoral isso não é mais efetivo.

As pessoas em situação de rua precisam de refeições prontas, gratuitas e de qualidade. É necessário construir mais restaurant­es populares, casas de acolhiment­o e começar a apoiar as iniciativa­s de cozinhas solidárias independen­tes no município. É dever da prefeitura garantir atendiment­o de saúde e , também, realizar a redução de danos para os usuários de drogas. Organizar e executar projetos que apresentem alternativ­as sociais e econômicas para que essas pessoas tenham esperança e resgatem sua dignidade. O prefeito deve liderar sua gestão e pedir das suas secretaria­s ações conjuntas que tratem deste problema. É seu papel articular com o Governo do Estado uma atuação coordenada das Polícias Civil e Militar, em conjunto com a Guarda Municipal. Entendendo que não é somente a polícia que resolve o problema da Segurança. Mas sim, ações integradas de assistênci­a social e saúde, amplamente debatidas com a sociedade civil organizada e especialis­tas, executadas por pessoas qualificad­as e comprometi­das com a gestão pública e com a cidade de Olinda. Olinda tem pressa!

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil