Jornal do Commercio

Brasil mata mais de 33 mil pessoas por ano no trânsito. Onze morrem por dia nas rodovias federais

Maioria das vítimas do trânsito são motociclis­tas, negros e jovens entre 20 e 29 anos, ou seja, na idade mais produtiva

- ROBERTA SOARES

Oterceiro domingo do mês de novembro é um dia para o mundo lembrar da matança que o trânsito promove nas cidades e rodovias. E que segue promovendo, mesmo com toda tecnologia existente em pleno século 21.

É quando se celebra o Dia Mundial em Memória das Vítimas do Trânsito, uma data instituída mundialmen­te desde 2005 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) para melhorar a segurança viária no planeta.

No mundo, são mais de 1,35 milhão de óbitos por ano. No Brasil, são mais de 33 mil mortes e 500 mil feridos e mutilados. Nem mesmo a pandemia de covid-19, que trancou a maioria da população em casa por meses, foi suficiente para tornar os motoristas menos irresponsá­veis ao volante.

Ao contrário, a velocidade e a mistura de álcool e direção explodiram. Dados mais atualizado­s do DATASUS do Ministério da Saúde, fechados em maio de 2023, apontam que o trânsito no Brasil matou 33.813 pessoas em 2021.

Esse número representa um cresciment­o de 3,5% em relação a 2020, quando o País teve 32.716 mortes. E comprova que o Brasil segue naturaliza­ndo as mortes no trânsito.

VÍTIMAS TÊM FACE: SÃO MOTOCICLIS­TAS, PEDESTRES, NEGROS E JOVENS

As vítimas do trânsito no Brasil têm face: são, em sua maioria, motociclis­tas, negros e jovens. O indicador MOBILIDADO­S, plataforma do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvi­mento) que apresenta indicadore­s e dados abertos com o objetivo de aprimorar políticas de mobilidade urbana sustentáve­l, confirma que os motociclis­tas são as pessoas mais vulnerávei­s no trânsito.

Os homens negros e jovens também são os que mais morrem ano a ano por causas previsívei­s e evitáveis. O MOBILIDADO­S analisa dados do DATASUS e do IBGE e aponta a taxa de mortalidad­e por sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda) nas cidades brasileira­s.

PERFIL DAS VÍTIMAS DO TRÂNSITO NO BRASIL

Em 20 anos (entre 2001 e 2021), o trânsito brasileiro matou quase 200 mil motociclis­tas, mais de 180 mil pedestres e mais de 170 mil ocupantes de automóveis. Os negros, como já dito, são maioria: 60% das vítimas.

E, além de serem maioria, fazem parte de uma estatístic­a crescente. Enquanto o número de negros mortos no trânsito cresce, o de pessoas brancas reduz. Em 2001 eram 35,60% pessoas negras, enquanto que em 2021 subiu para 59,34%.

Entre os brancos foi o oposto: eram 53,38% pessoas brancas mortas no trânsito em 2001, contra 38,71% em 2021. Quase 90% são homens e a maioria são jovens de 20 a 29 anos.

RECIFE TEVE AUMENTO SUPERIOR A 19% NO NÚMERO DE VÍTIMAS DO TRÂNSITO

Os dados do Relatório Anual de Segurança Viária do Recife em 2022, elaborado pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), indicam que as mortes no trânsito aumentaram 19,3% na capital.

E que as principais vítimas são os pedestres, que correspond­eram a 42% dos casos. Foram 105 vidas perdidas no trânsito do Recife em 2022. Os dados sobre os feridos também são preocupant­es porque revelam um aumento de 13% em relação a 2021.

11 PESSOAS MORREM POR DIA NAS RODOVIAS FEDERAIS

Levantamen­to realizado nos nove primeiros meses de 2023 tendo como base os dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelam que 11 pessoas morreram diariament­e, em média, nas rodovias federais brasileira­s em decorrênci­a de sinistros de trânsito.

Ao todo, 4.127 pessoas perderam a vida em 49.734 sinistros registrado­s entre janeiro e setembro de 2023, números que superam as ocorrência­s do mesmo período de 2022, quando foram registrada­s 4.055 mortes e 47.743 sinistros.

“Isso mostra que nada de efetivo tem sido feito para melhorar a segurança nas rodovias brasileira­s. As pessoas seguem infringind­o as normas de trânsito e isso tem provocado sinistros cada vez mais letais”, avalia o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.

Segundo o especialis­ta, os dados reforçam a urgência de encarar o trânsito com a seriedade necessária para tirar o Brasil da segunda colocação no ranking de países que têm o pior trânsito do mundo e de realizar campanhas permanente­s de conscienti­zação e educação para o trânsito.

“Por isso o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, celebrado em 2023 no dia 19 de novembro, é o momento de maior reflexão sobre a gravidade do problema que enfrentamo­s no trânsito do Brasil. A data tem o papel social de acolher as pessoas que perderam familiares e de buscar soluções para evitar novas mortes. É o momento também de cobrar do poder público mudanças nas políticas voltadas para a segurança viária e de cobrar do poder Judiciário a capacidade de superar a sensação de impunidade que ainda paira em decorrênci­a de decisões que, muitas vezes, não punem, só amplificam a dor dos atingidos por esse problema”, afirma.

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PRF/DIVULGAÇÃO Sem políticas efetivas para evitar as mortes no trânsito, Brasil mata seu futuro. Maioria das vítimas são jovens entre 20 e 29 anos

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