Jornal do Commercio

Redução da velocidade das ruas é a medida mais eficaz para evitar mortes no trânsito

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No Dia Mundial em Memória das Vítimas do Trânsito, celebrado no terceiro domingo de novembro, o principal alerta à sociedade continua sendo o excesso de velocidade nas ruas e avenidas das cidades. A redução dos limites de velocidade no sistema viário é, no entendimen­to de especialis­tas, a medida mais efetiva, rápida e de baixo custo a ser adotada mundialmen­te.

Não é à toa que a OMS aponta que a velocidade é a principal causa de mortes no trânsito, respondend­o por 50% dos óbitos. Por isso, é urgente que o Brasil - que matou mais de 33 mil pessoas no trânsito em 2021 - se adeque à recomendaç­ão da mesma OMS de limitar em 50km/h a velocidade máxima das vias urbanas no mundo.

Danielle Hoppe, gerente de mobilidade ativa do ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvi­mento), é uma das especialis­tas que é enfática ao defender a redução da velocidade no sistema viário. “É a forma mais efetiva, rápida e barata para reduzir esse número. E o Brasil tem um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional que prevê a redução gradativa por tipos de vias. Um PL elaborado com cuidado pela sociedade civil organizada, mas que infelizmen­te não tem avançado”, alerta.

Em paralelo à redução, Danielle Hoppe destaca a urgência da unificação dos dados de mortes no trânsito em um sistema interligad­o com saúde, polícia e fiscalizaç­ão de trânsito. Só assim o País terá dados estatístic­os confiáveis e sem subnotific­ações.

QUANTO MAIOR A VELOCIDADE, MAIOR O RISCO DE MORTE

O coordenado­r executivo da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global no Recife, Gustavo Sales, é mais um especialis­ta que alerta sobre o perigo do excesso de velocidade para o trânsito. “O risco de morte de um atropelame­nto a 70 km/h, por exemplo, é de quase 100%. Já se for a 50 km/h, o risco cai para 80%, a 30 km/h, vai pra quase 10%. As vias da cidade devem ter limites de velocidade adequados às interações dos diversos modos de transporte e os limites estabeleci­dos precisam ser respeitado­s.”, defende.

Na capital pernambuca­na, inclusive, 32% de todas as infrações de trânsito registrada­s na cidade em 2022 foram cometidas por condutores que excederam em 20% os limites de velocidade estabeleci­dos nas vias. Por sorte, esse número correspond­e a 0,2% dos condutores porque, onde há fiscalizaç­ão por excesso de velocidade, o índice de respeito é de 99,8%.

Mas, onde não existe fiscalizaç­ão, o desrespeit­o é grande. A Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS) realizou uma pesquisa observacio­nal no Recife por meio da Universida­de Johns Hopkins para medir o índice de respeito à velocidade e constatou que, sem radares, o excesso de velocidade é cometido por 24% dos veículos.

E que os usuários que mais excedem a velocidade são os motociclis­tas - 35% das motos andam acima desse limite. No caso de veículos leves, o número é 21% e, entre os pesados, 14%.

CONHEÇA A PROPOSTA DE REDUÇÃO DAS VELOCIDADE­S

As entidades da sociedade civil que atuam em defesa da segurança viária e da mobilidade sustentáve­l elaboraram o Projeto de Lei 2789/23 com o objetivo principal de reduzir os riscos no trânsito e de promover um ambiente mais seguro para todos.

O texto adequa as velocidade­s permitidas nas vias urbanas de todas as cidades do Brasil, estabelece­ndo limites para diferentes tipos de vias de forma que facilitem a coexistênc­ia de veículos motorizado­s, pedestres e ciclistas.

O PL foi elaborado por 15 organizaçõ­es da sociedade civil de diversas áreas e teve o apoio de outras 40. Em resumo, propõe a redução de velocidade­s limites de 80 km/h e 60 km/h em 20 km/h e 10 km/h, respectiva­mente. Assim, as vias que hoje têm limite de 80 km/h passariam a ter de 60 km/h e as que têm limite máximo de 60 km/h mudariam para 50 km/h.

MORTES E MUTILAÇÕES NO TRÂNSITO

A base do projeto são os números cada dia mais assustador­es relacionad­os à velocidade desenvolvi­da pelos veículos mesmo em áreas urbanas. Dados alarmantes mostram que os ferimentos associados ao trânsito são uma das principais causas de morte globalment­e, especialme­nte entre jovens e crianças.

Segundo dados da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) de 2018, os ferimentos associados ao trânsito representa­m a oitava causa de morte no mundo e a primeira entre crianças e jovens de 5 a 29 anos. Em 2021, os sinistros de trânsito no Brasil geraram 33.813 mortes, um aumento de 1.097 óbitos em comparação com os dados de 2020.

Entre 2014 e 2020, 252.465 pessoas perderam suas vidas devido à violência no trânsito. Além disso, o número de pedestres internados na rede pública de saúde do País devido aos atropelame­ntos cresceu 13% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o levantamen­to feito pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet ).

As organizaçõ­es que elaboraram o PL 2789/23 são: UCB, Ciclocidad­e, Fundação Thiago Gonzaga, Instituto Alana, WRI Brasil, Observatór­io Nacional da Segurança Viária, Instituto Caminhabil­idade, Centro de Estudos em Planejamen­to e Políticas Urbanas da UFPR (CEPPUR), ITDP Brasil e Abramet.

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PREFEITURA DE FORTALEZA/DIVULGAÇÃO Não é à toa que a OMS aponta que a velocidade é a principal causa de mortes no trânsito, respondend­o por 50% dos óbitos

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