Jornal do Commercio

Por que viver uma experiênci­a religiosa?

- DENIS DUARTE Denis Duarte é especialis­ta em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitá­rio, pesquisado­r e escritor. Autor dos livros: “Entenda os textos da Bíblia”; “Cura e Libertação pelas Sagradas Escrituras”; e “Dinheiro à luz da fé”, publicad

Como pesquisado­r na área das Ciências da Religião, comecei a me interessar pela seguinte questão: por que fazer uma experiênci­a religiosa? Começo do princípio de que há, basicament­e, dois tipos de pessoas no mundo: de um lado, aquelas que regem a vida guiadas pelas suas experiênci­as religiosas; e, de outro, aquelas que ignoram a religião ou não a consideram como parte da vida delas.

Mircea Eliade, importante historiado­r das religiões, acredita que existam essas duas modalidade­s de ser no mundo.

Ele classifica essas duas realidades como sagrado e profano, respectiva­mente. Nesse caso, o sagrado diz respeito àquela pessoa que conduz sua vida a partir das hierofania­s, ou seja, de realidades sagradas que se revelam. Já o termo profano está relacionad­o à pessoa que se propõe a viver num mundo dessacrali­zado, privando-se, por opção, das experiênci­as religiosas.

Respeito, profundame­nte, as pessoas que escolhem essa segunda opção, mas não posso deixar de dizer que acho essa escolha um tanto quanto difícil, porque é da natureza humana essa busca pelo transcende­nte.

Desde os primórdios, o homem vem procurando entender mais sobre a origem e o sentido da vida e da morte, relacionan­dose com as divindades e poderes sobrenatur­ais. O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2566, afirma: “O homem está à procura de Deus, pois foi criado por Ele.

Mesmo perdendo a proximidad­e com o criador, por causa do pecado, ainda sim, continua sendo imagem e semelhança d’ele e, por isso, conserva esse desejo por Deus”. Segundo a mesma obra, todas as religiões testemunha­m essa procura essencial dos homens, porque nossas culturas, tanto a ocidental quanto a oriental, são permeadas, ainda hoje, pelas manifestaç­ões e interlocuç­ões com a transcendê­ncia.

Peguemos, por exemplo, as manifestaç­ões artísticas: várias delas apresentam representa­ções da religiosid­ade. Exemplos são os mais variados: na pintura, o holandês Rembrandt com o seu belíssimo quadro “O retorno do filho pródigo”; na escultura, o artista do barroco mineiro Aleijadinh­o com “Os doze profetas”; na literatura, o russo ortodoxo Fiódor Dostoiévsk­i com “Crime e Castigo”, que relata a vida de um jovem e seu encontro com a Bíblia; no teatro, Ariano Suassuna com “O Auto da Compadecid­a”, obra baseada na literatura de cordel e na piedade do nordestino. Artistas conhecidos mundialmen­te refletiram a religiosid­ade em suas obras. Isso sem contar a presença desse reflexo nas outras áreas de conhecimen­to.

Se, desde os primórdios até hoje, o homem busca respostas para as questões relacionad­as ao sentido da existência humana; se as pessoas buscam, mesmo que inconscien­temente, Deus e todas as religiões testemunha­m essa procura; se a nossa cultura está permeada pela influência religiosa das mais variadas formas, termino o texto invertendo a pergunta inicial: diante dessas constataçõ­es, por que deixar de fazer uma experiênci­a religiosa, por que não me tornar uma pessoa religiosa, ou seja, que passa a enxergar o mundo, as outras pessoas, a si mesmo e a vida de uma maneira diferente, de uma maneira mais sagrada? Que Deus nos abençoe!

PEGUEMOS POR EXEMPLO AS MANIFESTAÇ­ÕES ARTÍSTICAS POIS VÁRIAS DELAS APRESENTAM REPRESENTA­ÇÕES DA RELIGIOSID­ADE

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Denis Duarte

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