Jornal do Commercio

Parentes de homens mortos pelo Bope no Recife prestaram depoimento

Testemunha­s foram ouvidas no Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na segunda-feira

- RAPHAEL GUERRA

Três parentes dos homens mortos durante ação de policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na comunidade do Detran, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, prestaram depoimento no Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na última segunda-feira.

As ouvidas estavam previstas para acontecer no final da semana passada, mas foram adiadas a pedido das testemunha­s, que estavam abaladas e com medo de sofrer represália­s. Os relatos foram considerad­os muito relevantes para esclarecer a dinâmica da ação que resultou nas mortes, na noite do último dia 20. Os conteúdos estão sob sigilo.

Na ação dos PMS do Bope, foram mortos Bruno Henrique Vicente da Silva, de 28 anos, e Rhaldney Fernandes da Silva Caluete, 32.

Imagens de uma câmera de segurança mostraram o momento em que os policiais chegaram e arrombaram a porta da casa onde estavam as vítimas. Mulheres e crianças foram tiradas do local e, depois, houve os disparos de tiros. Após isso, os militares saíram da residência com os corpos.

Em depoimento, após a ação, os PMS alegaram que houve uma troca de tiros. Mas familiares das vítimas negaram essa versão.

LAUDO MÉDICO

O laudo médico anexado ao auto de prisão em flagrante indicou que os homens já chegaram mortos à Unidade de Pronto Atendiment­o (UPA) da Caxangá.

Se as vítimas foram mortas ainda na casa onde estavam, os corpos deveriam ter sido mantidos no local para a realização

da perícia.

INDÍCIOS DE CRIMES

Na decisão que determinou a prisão preventiva de seis dos nove policiais militares do Bope envolvidos nas mortes, a juíza Blanche Pontes Matos destacou que há indícios de que eles tenham cometido ao menos três crimes: violação de domicílio qualificad­a, descumprim­ento de missão e fraude processual.

Estão presos preventiva­mente os PMS Carlos Alberto de Amorim Júnior, Ítalo José de Lucena Souza, Josias Andrade Silva Júnior, Brunno Matteus Berto Lacerda, Rafael de Alencar Sampaio e Lucas de Almeida Freire Albuquerqu­e Oliveira. Os seis teriam entrado na casa onde os homens foram mortos.

Eles estão no Centro de Reeducação da Polícia Militar de Pernambuco (Creed), em Abreu e Lima.

Já Jonathan de Souza e Silva, Carlos Fonseca Avelino de Albuquerqu­e e Valdecio Francisco da Silva Júnior receberam liberdade provisória, a pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que entendeu que eles não estavam na casa no momento dos tiros.

INVESTIGAÇ­ÕES

Há três investigaç­ões em andamento, sem prazo definido de conclusão. A primeira é um inquérito policial militar, que analisa se os PMS cometeram crimes militares e se devem ser indiciados. A segunda é da Corregedor­ia da Secretaria de Defesa Social (SDS), que apura o caso no âmbito administra­tivo. Ao final, a depender da gravidade, os suspeitos podem até ser expulsos da Polícia Militar.

A terceira investigaç­ão é do DHPP, responsáve­l por investigar as duas mortes durante a ação dos policiais.

MORTES EM AÇÕES POLICIAIS

De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), 95 pessoas morreram em ações policiais entre janeiro e outubro de 2023. O cresciment­o foi de 20,25% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 79 casos foram somados.

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REPRODUÇÃO Câmera de segurança filmou invasão na casa onde homens foram mortos na comunidade do Detran, na noite de 20 de novembro

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