Jornal do Commercio

Policiais envolvidos na agressão de mulher trans no Recife viram réus

Caso aconteceu no Terminal Integrado da Joana Bezerra, em 29 de janeiro. Polícia Militar pediu arquivamen­to do caso, mas MPPE não concordou e denunciou militares à Justiça

- RAPHAEL GUERRA

Dois policiais militares envolvidos no caso da agressão de uma mulher trans no Terminal Integrado de Joana Bezerra, na área central do Recife, em 29 de janeiro deste ano, viraram réus. A Justiça aceitou denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que não concordou com o pedido de arquivamen­to da Polícia Militar.

O cabo Bruno José Bandeira de Melo Queiroz, apontado como o autor da agressão física, foi denunciado pelos artigos 217 do Código Penal Militar (quando a injúria consiste em violência) e 319 (retardar ou deixar de praticar, indevidame­nte, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal).

Já o cabo João Leopoldo de Mesquita Cavalcanti foi denunciado apenas pelo artigo 319.

A agressão à mulher trans, cujo nome será preservado, ocorreu justamente no Dia Nacional da Visibilida­de Trans.

O vídeo, que viralizou pelo País, mostra o momento em que a passageira, que é professora, é agredida pelo policial militar com um forte tapa no rosto após descer do ônibus.

VÍTIMA FEZ RELATO DE TRANSFOBIA

A mulher trans afirmou que, antes disso, havia sido vítima de transfobia, praticada por três homens e três mulheres, que passaram a cantar a música “Papa Frango”, do compositor João do Morro. Na sequência, o grupo passou a chamar a vítima e o companheir­o dela de “frango” e a “zombar de sua identidade de gênero”.

Houve uma confusão entre o grupo e o casal. Por essa razão, os PMS foram acionados para o terminal. Quando a mulher trans saiu do ônibus, pediu ajuda aos policiais - mas foi agredida.

A vítima, mesmo com as imagens confirmand­o a transfobia, teria sido orientada pelos militares a apagar tudo. Depois, foi levada para a Central de Plantões da Capital, onde foi lavrado um termo circunstan­ciado de ocorrência pelo porte de arma branca (faca), apesar de ela afirmar que não a portava.

DENÚNCIA À JUSTIÇA

Na denúncia enviada à Justiça, o promotor José Roberto da Silva reforçou que os policiais “deixaram de praticar ato de ofício, contra expressa disposição de lei, para satisfazer­em interesse próprio, visto que não levaram ao conhecimen­to das autoridade­s cabíveis o crime narrado (pela mulher trans), além de terem determinad­o que ela apagasse os registros que estavam em seu aparelho telefônico”.

O processo está em andamento na Vara da Justiça Militar, sem prazo para julgamento.

PUNIÇÃO DISCIPLINA­R

Na época em que o vídeo viralizou na internet, o policial militar que deu o tapa no rosto da mulher trans foi identifica­do e chegou a ser punido disciplina­rmente com 21 dias de detenção, segundo a Polícia Militar de Pernambuco.

O JC não conseguiu contato com as defesas dos PMS.

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REPRODUÇÃO Câmera filmou momento em que passageira levou tapa no rosto de policial militar após descer de ônibus

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