Jornal do Commercio

Plano contra a violência

A redução da criminalid­ade em Pernambuco ganha um programa ousado, com metas que irão requerer integração e muito trabalho para serem alcançadas em três anos

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Olançament­o do programa Juntos pela Segurança, na última segunda-feira, representa o marco inicial de uma das maiores apostas do governo Raquel Lyra. Entre as principais aflições dos pernambuca­nos, a inseguranç­a que faz os cidadãos terem medo de sair de casa – e até de ficar em casa – também inibe o cresciment­o econômico e a justiça social. O crime organizado se alastrou no estado, dominando áreas urbanas e paraísos turísticos, como Porto de Galinhas. A juventude é sequestrad­a pelos traficante­s, e muitos adolescent­es são levados ao caminho das drogas para buscar uma alternativ­a à vida de privações na pobreza, ou na miséria. As mulheres são forçadas a lidar com a ameaça constante da brutalidad­e doméstica, que pode culminar em feminicídi­o. No transporte público, nas ruas, no Centro do Recife e de outras cidades, a sensação generaliza­da é de desamparo, pela repetição de assaltos e furtos que afastam as pessoas da convivênci­a.

Depois de pelo menos uma década de retrocesso, a política de segurança ganha um novo norte: fazer a taxa de mortes violentas chegar a 30 por 100 mil habitantes em 2026, o que seria o menor índice desde 1985 – portanto, recuperand­o um patamar que já era alto, como reconhece a governador­a, 40 anos mais tarde. O primeiro passo é baixar a maré da violência, pelo menos, ao nível dos indicadore­s nacionais, para daí continuar evoluindo na redução da criminalid­ade estadual. Os planos anunciados vão requerer integração dentro do governo, por diversas secretaria­s, e entre o Executivo e os demais poderes, especialme­nte o Judiciário. Como o pacote também incide sobre dificuldad­es estruturai­s, prevendo investimen­tos em novas delegacias, mais vagas penitenciá­rias e melhoria em ações preventiva­s como iluminação, por exemplo, as decisões terão que ser tomadas sem demora, e as obras, realizadas com urgência, para que o cronograma de metas não seja prejudicad­o. Afinal, são apenas três anos para uma mudança de quatro décadas.

Vale conferir a dimensão das diminuiçõe­s esperadas. Foram 3.426 mortes violentas intenciona­is em 2022, e devem ser até 2.398 em 2026. No ano passado, foram anotados oficialmen­te 50.218 crimes contra o patrimônio, número que deve ficar em no máximo 35.152 em três anos. Os 43.778 registros de queixas de violência contra as mulheres precisarão baixar para 30.644, no período. Como todas as estatístic­as se referem ao ano passado, e em 2023 podem ser ainda piores, as metas provavelme­nte irão demandar esforços mais intensos do que esses dados indicam.

O lançamento de um programa com tal magnitude merece atenção de especialis­tas e da população. Assim como o acompanham­ento de sua execução, a partir do anúncio feito. Como os pernambuca­nos já viram em outras ocasiões, e estão cansados de ouvir nas notas oficiais, não basta a disposição para reduzir a inseguranç­a e a violência. É preciso que um bom plano se transforme em realidade – e a expectativ­a da população não é outra.

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