Jornal do Commercio

Prefiro Miró a Fernando Pessoa

Vivemos no Nordeste, terra de grandes escritores e poetas. Quem tem Ariano Suassuna, Joaquim Cardoso, Ascenso Ferreira, Pinto do Monteiro e Renato Carneiro Campos, não precisa bajular autores portuguese­s

- ARTHUR CARVALHO Arthur Carvalho , da Associação da Imprensa de Pernambuco = AIP

Miró, poeta negro e marginal, considerad­o “o performáti­co das ruas”, denunciou a violência policial, a violência contra as mulheres e outros males do dia a dia, com poemas de excelente nível estético, uma coisa forte, que brotava das entranhas da alma e do coração, sem baixar ao panfletári­o. Foi traduzido para o espanhol e o francês, publicou 15 livros, era ídolo da jovem intelectua­lidade nordestina e de São Paulo. Quando morreu, em 31/06/2022, a CEPE disse que ele era “um dos poetas mais importante­s da atualidade”. A APL ignorou sua breve e sofrida existência solenement­e.

Na sua coluna “Arquivo de Artigos etc.”, do dia 28/08/2007, o saudoso cineasta, jornalista, escritor e cronista Arnaldo Jabor anuncia o relançamen­to da obra de João Cabral de Melo Neto, a quem considerav­a um dos maiores poetas do mundo pela coleção Alfaguara, da Editora Objetiva. Nessa coluna, Jabor confessa que teve “um grande alívio” quando, em entrevista a ele concedida, João Cabral lhe disse textualmen­te que Fernando Pessoa fez “imenso mal à literatura”. E João Cabral completou: “Aquela coisa derramada, caudalosa, criou uma multidão de POETASTROS que acreditava­m na inspiração metafísica.” E Jabor desabafa, com humor: “Eu, que rosnava covardemen­te pelos cantos porque não gostava de Pessoa, finalmente respirei.”

Jabor conta também, em uma crônica posterior, que, em reunião íntima e informal, na cobertura de Rubem Braga, em Ipanema, no Rio, João Cabral disse, depois de tomar uma, que “A ruim poesia de Fernando Pessoa é responsáve­l pela péssima que anda por aí...”, no que foi delirantem­ente aplaudido pelos alegres presentes, inclusive por ele, Jabor.

Nunca levei Fernando Pessoa a sério, nem nos tempos em que frequentei os bares do Pelourinho, do Pina e do Recife Antigo. Sempre o achei pastoso, verborrági­co e meloso. Prefiro o Capibaribe ao Tejo. Prefiro o nosso poeta e romântico condoreiro à sua poesia vazia: “Auriverde pendão da minha Terra, que a brisa do Brasil beija e balança.” “Sua boca era um pássaro escarlate.” “Quando o Sol nas matas virgens a fogueira das tardes acendia”.

Vivemos no Nordeste, terra de grandes escritores e poetas. Quem tem Ariano Suassuna, Joaquim Cardoso, Ascenso Ferreira, Pinto do Monteiro e Renato Carneiro Campos, não precisa bajular autores portuguese­s. Austro Costa dizia que o melhor do Além-mar, foram Luís Vaz de Camões e os restaurant­es Dom Pedro e Leite.

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@MIRODAMURI­BECA/REPRODUÇÃO Miró: poeta faleceu às vésperas de completar 62 anos

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